Publicada em 19/01/2023 às 15h11
Em setembro do ano passado, o governo do Irã anunciou que pretendia utilizar a tecnologia de reconhecimento facial em transportes públicos para identificar quem não estivessem usando o hijab, véu que deve cobrir a cabeça de mulheres segundo a tradição muçulmana. O uso das tecnologia para perseguição às mulheres é parte de um grave processo que atualmente vem se acirrando no país: em dezembro, segundo matéria do site Wired, uma mulher foi presa e punida após ser identificada sem usar o hijab no parque de diversões em que trabalha.
Pouco tempo antes do anúncio, em agosto de 2022, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, assinou um decreto restringindo ainda mais a vestimenta feminina e determinando que mulheres que postassem fotos sem o véu na internet perderiam direitos sociais por seis meses a um ano. Em seguida, a morte de Jina Mahsa Amini, ocorrida no dia 7 de setembro depois da jovem ser presa por não vestir o véu corretamente, desencadeou uma onda de protestos no país e no mundo, que resultou em cerca de 19 mil prisões e mais de 500 mortes.
O uso da tecnologia de reconhecimento facial em transportes públicos, segundo uma agência do governo iraniano, terá como objetivo “identificar movimentos inapropriados e incomuns” e “falhas em cumprir as leis do hijab”. De acordo com representante, o sistema utilizará para identificação um banco de dados estabelecido em 2015 para emissão de carteiras de identidades, que reúne boa parte da população iraniana e inclui informações biométricas e escaneamentos faciais.
De acordo com o decreto assinado por Raisi, mulheres que violarem a lei poderão perder acesso a bancos, ao transporte público e a outros serviços essenciais: caso se repitam os atos considerados crimes, como simplesmente não usar o hijab suficientemente atado, as mulheres poderão ser presas. De acordo com informações de uma ONG iraniana, mais de 5 mil pessoas já foram presas desde 2011, revelando como já era comum que o não uso ou uso considerado indevido do véu levasse a punições severas no país.