Publicada em 20/01/2023 às 09h29
Em mais um dia de crise que se arrasta no Peru desde o início de dezembro, manifestantes entraram em confronto violento com a polícia nesta quinta-feira (19).
Os manifestantes pedem a renúncia de Dina Boluarte, presidente do país, e a convocação de novas eleições. Boluarte assumiu o poder em dezembro de 2022 após Pedro Castillo fracassar em uma tentativa de autogolpe e ser preso.
Em Lima, nesta quinta, a polícia usou gás lacrimogêneo para tentar evitar a chegada de um grupo ao Congresso. Houve confronto no centro da cidade, na avenida Abancay. Os manifestantes lançaram pedras arrancadas da calçada contra os agentes, disseram repórteres da agência AFP.
"[Em Lima, as autoridades mobilizaram] 11.800 efetivos nas ruas para controlar os distúrbios, além de veículos militares e da participação das Forças Armadas", disse o chefe da Região Policial Lima, general Víctor Zanabría.
Um prédio da capital que fica próximo da praça San Martín pegou fogo durante o confronto, mas autoridades ainda não informaram o que provocou o incêndio.
Em Arequipa, segunda maior cidade do país, foi registrado um confronto entre as forças de segurança e mil manifestantes que tentaram invadir o aeroporto e foram repelidos com gás lacrimogêneo, segundo TVs locais. O aeroporto de Arequipa suspendeu as operações por motivos de segurança.
O serviço ferroviário entre Cusco e a cidadela inca Machu Picchu, joia do turismo peruano, também foi suspenso, indicou a operadora.
Pouco depois dos conflitos, ainda nesta quinta, Boluarte fez um pronunciamento afirmando que a situação foi controlada e que "o governo está firme e o seu gabinete mais unido do que nunca".
"Ao povo peruano, aos que querem trabalhar em paz e aos que geram atos de protesto, digo: não me cansarei de chamá-los ao bom diálogo, dizendo-lhes que trabalhem pelo país", disse a presidente.
"Todo o rigor da lei vai cair sobre essas pessoas que praticam vandalismo", disse.
Mortes
As autoridades confirmaram 54 mortes desde o início da crise no país, que começou em 7 de dezembro. Segundo o governo, 44 pessoas morreram em protestos e 9 em incidentes ligados a bloqueios nas estradas. A outra morte foi de um policial.
Ainda nesta quinta, segundo a Defensoria do Povo, um manifestante foi baleado no tórax durante um protesto em Macusani, na região de Puno. Na véspera, quarta (18), também em Macusani, uma mulher morreu após ser baleada. Na ocasião, uma multidão incendiou uma delegacia e a sede do Poder Judicial.
Estado de emergência
O país vive intensos protestos desde que o presidente Pedro Castillo foi deposto pelo Congresso e preso em 7 de dezembro, após uma tentativa fracassada de autogolpe de Estado, quando tentou fechar o Parlamento, governar por decretos e convocar uma Assembleia Constituinte.
Bloqueios de estradas foram vistos em 18 das 25 regiões do país, segundo autoridades de transporte, ressaltando o alcance dos protestos. A polícia aumentou a vigilância das estradas que entram em Lima e os líderes políticos pediram calma.
Na semana passada, o governo de Boluarte estendeu o estado de emergência em Lima e nas regiões do sul de Puno e Cusco, restringindo alguns direitos civis.
"Não queremos mais mortes, não queremos mais feridos, sangue suficiente, luto suficiente para as famílias do Peru", disse o ministro do Interior, Vicente Romero, a repórteres.
Boluarte pediu "perdão" pelas mortes nos protestos, mesmo quando as faixas dos manifestantes a rotulam de "assassina" e chamam os assassinatos das forças de segurança de "massacres". Ela rejeitou pedidos de renúncia.
Grupos de direitos humanos acusaram a polícia e o exército de usar armas de fogo letais nos protestos. A polícia diz que os manifestantes usaram armas e explosivos caseiros.
Manifestantes peruanos marcham em Lima
"Não vamos esquecer a dor que a polícia causou na cidade de Juliaca", disse uma manifestante que viajava para Lima, que não quis se identificar. Ela se referiu à cidade onde um protesto especialmente mortal ocorreu no início deste mês. "Nós mulheres, homens, crianças temos que lutar.
Outros manifestantes apontaram razões estratégicas para atacar a capital peruana.
"Queremos centralizar nosso movimento aqui em Lima, que é o coração do Peru, para ver se eles se movem", disse o manifestante Domingo Cueva, que viajou de Cusco.