Publicada em 30/01/2023 às 09h31
Os protestos no Peru para exigir a renúncia da presidente Dina Boluarte se tornaram mais intensos para pressionar o Congresso, que deve voltar a examinar nesta segunda-feira (30) a possível antecipação das eleições.
A presidente aumentou a pressão no domingo à noite ao apresentar um apelo para que o Congresso antecipe as eleições, pois em caso contrário pretende estimular reformas constitucionais para que as eleições sejam impostas.
"Votem pelo Peru, a favor do país, antecipando as eleições para 2023. E digamos a todo o Peru com a maior responsabilidade que todos vamos sair", afirmou em uma mensagem ao país, antes de destacar que no caso de uma nova rejeição no Congresso ela vai promover reformas constitucionais para que as eleições sejam impostas, com o primeiro turno em outubro.
"As mobilizações vão continuar porque não há sinais de que o Executivo pretende renunciar", declarou à AFP o líder sindical da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP), Gerónimo López, ao convocar uma passeata nacional na terça-feira com o lema "Dina, renuncie já".
Apesar das 48 mortes registradas nas manifestações em cidades do sul do país e em Lima em sete semanas, a crise política e social não apresenta sinais de trégua.
O poder político se mostra incapaz de encontrar uma resposta para as demandas da população, em particular dos moradores de áreas rurais do sul andino, de maioria indígena, historicamente marginalizados, que apostaram em conseguir melhores condições de vida com a eleição do esquerdista Pedro Castillo à presidência (2021-2022), destituído e detido em 7 de dezembro depois de tentar dissolver o Congresso.
Boluarte, que era vice-presidente, assumiu o comando do governo.
"O povo está praticamente dizendo que não vai parar sua luta se Boluarte não renunciar", insistiu o sindicalista.
- Decisão crucial -
Uma sessão do Congresso está programada para esta segunda-feira para reconsiderar a votação que rejeitou a antecipação das eleições para este ano (65 votos contra 45), que aconteceu na madrugada de sábado.
A presidente reconheceu que a crise nas ruas se agravou, com um cenário de protestos violentos e bloqueio nas estradas, que provocam escassez de produtos básicos e combustíveis em várias cidades.
Depois de lamentar a decisão do Congresso, que já havia votado por uma antecipação das eleições para 2024, Boluarte pediu às "bancadas que deixem de lado os interesses partidários e priorizem os interesses do Peru".
O presidente do Parlamento, José Williams, militar de direita aposentado, primeiro na linha de sucessão em caso de renúncia da presidente peruana, também pediu aos parlamentares que "reflitam com responsabilidade sobre a decisão a tomar" nesta segunda-feira.
O debate político coincidirá com o velório de Víctor Santisteban, 55 anos, manifestante que faleceu no sábado no protesto mais violento registrado em Lima desde o início da revolta social em dezembro. Ele foi atingido por um "objeto contundente na cabeça", segundo o boletim médico.
Bombas de gás lacrimogêneo, pedras e tijolos foram utilizados nos confrontos de sábado, que deixaram vários feridos entre manifestantes e policiais.
Apesar da pressão, muitos analistas consideram difícil que o Congresso reverta a rejeição à antecipação das eleições para este ano.
A iniciativa, apresentada pelo deputado fujimorista Hernando Guerra García, do partido de direita Força Popular (FP), pretendia antecipar as eleições para outubro, com a presidente, os congressistas e autoridades eleitas entregando os cargos em dezembro de 2023.
Mas a esquerda insistiu na inclusão de um referendo para a criação de uma Assembleia Constituinte, o que é rejeitado por muitos políticos peruanos. Outras forças denunciaram uma suposta manobra do Força Popular, partido da ex-candidata à presidência Keiko Fujimori, para tirar proveito das eleições antecipadas.
Uma pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos (IEP) mostra que 73% da população deseja eleições este ano 89% dos peruanos criticam o desempenho do Congresso.