Publicada em 28/01/2023 às 10h13
Valentina e sua filha Natalia ficaram sem gás em casa quando os combates alcançaram a cidade ucraniana de Bakhmut (leste), onde depois os bombardeios destruíram as linhas de energia elétrica. Em agosto não tinham mais água e a situação insustentável as obrigou a fugir.
A batalha pelo controle desta cidade da região de Donetsk é uma das mais longas e devastadoras da guerra na Ucrânia. Quando os combates se tornaram mais intensos, as duas mulheres se viram obrigadas a substituir o gás e a energia elétrica por lenha e carvão.
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Mas quando ficou impossível buscar água de poço na vizinhança devido aos combates, elas fizeram uma viagem perigosa através do rio Bakhmutovka para escapar da cidade sitiada.
"Há uma semana ainda era possível morar lá, mas não é mais", disse Natalia, 52 anos, que ao lado da mãe de 73 anos aguarda para ser levada até um centro de ajuda humanitária, ao lado de outros 8.000 habitantes de Bakhmut.
A cidade, que tinha população de 70.000 habitantes antes da guerra, luta para proteger o abastecimento de água desde março, quando os bombardeios atingiram um canal, o principal responsável pelo fornecimento de água, e dois poços.
Mas os esforços foram frustrados pela intensificação dos bombardeios.
"Agora são os voluntários que abastecem a cidade com água potável", explica à AFP o comandante da administração militar de Bakhmut, Oleksandr Marchenko.
Na semana passada, galões de água foram distribuídos aos moradores em um centro de ajuda humanitária.
Os bombeiros também entregam água e, além dos poucos poços particulares, os moradores coletam água de onde conseguem nas ruas, de acordo com Marchenko.
Esta é uma solução menos arriscada que o rio, que divide a cidade e é uma das linhas da frente de batalha.
Svitlana, 38 anos, seu marido e o filho de cinco anos atravessaram diversas vezes uma ponte em ruínas, sob intensos bombardeios, para buscar água, mas só conseguiram retornar com 36 litros.
"Não temos água desde o início da guerra", afirma, enquanto observa o filho brincando em um refúgio criado pela organização Unidade do Povo no que antes era um centro esportivo.
"Sonho em tomar banho", diz Svitlana, que há meses se limpa com lenços umedecidos.
- Sem água para apagar incêndios -
Voluntários cavam um poço diante do imóvel que abriga o refúgio. Também pretendem instalar chuveiros e máquinas de lavar.
Ruslan Khublo, 33 anos, estudou Engenharia e respondeu a uma mensagem postada no Instagram para participar no projeto.
Durante uma recente visita da AFP, os bombardeios atingiram o bairro e mataram pelo menos uma pessoa.
Khublo, que viu sua cidade natal, Olenivka, ocupada pelas forças russas, não desiste.
"Não sabemos se conseguirão ou não tomar Bakhmut, mas as pessoas que vivem aqui precisam de ajuda. Algumas não tomam banho há dois meses".
Um caminhão-tanque de 500 litros, abastecido diariamente por voluntários ou bombeiros, virou um meio de distribuição crucial de água para centros humanitários e médicos.
Mas este sistema está no limite, pois os bombeiros precisam encher os tanques de seus caminhões não apenas para distribuir água, mas também para apagar os incêndios provocados pelos bombardeios.
Na semana passada, Olga e Mykalo observaram, impotentes, o incêndio em seu apartamento depois que os bombeiros ficaram sem água.
A organização humanitária protestante 'Hands to Help' fornece materiais para a construção de dois poços e Anatoliy Beztalanny, 48 anos, se apresentou como voluntário para as obras.
"Temos comida suficiente, mas há problemas com a higiene e a água", afirma.
Uma camada de rochas impede o avanço. Eles devem retornar à capital, Kiev, para obter equipamentos de perfuração. E prometem retornar, apesar do perigo.