Publicada em 04/02/2023 às 09h22
Porto Velho, RO – É inegável que a figura política que mais vem chamando a atenção – pelo bem ou mal –, é o delegado Rodrigo Camargo, do Republicanos.
De Ariquemes, Camargo surgiu para o eleitorado defendendo veementemente as pautas da extrema direita, com discursos efusivos, performáticos, lembrando, ainda que de maneira distante, a postura de Eyder Brasil, parlamentar do PL destronado pelas urnas em 2022.
O novo membro da Assembleia (ALE/RO), lado outro, aposta no inimigo invisível, o “fantasma do comunismo”, para servir de espantalho retroalimentando sua bolha eletiva. E é provável que o faça pelos próximos quatro anos.
"Fantasma do Comunismo" na mira do delegado / Reprodução
Faz parte do jogo e é natural que aja assim.
O político neófito mora e trabalha numa região onde 70,6% dos votos válidos foram encaminhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Dos 24 deputados estaduais eleitos, apenas Cláudia de Jesus, do PT, é declaradamente de esquerda e defende de forma contumaz o presidente eleito, Lula, da mesma legenda.
Dentro da ALE/RO, Cláudia representa algo em torno de 4,1% do todo, que, no caso, ou pertence também ao espectro destro no campo ideológico ou simplesmente não se manifesta sobre o tema.
O governador reeleito, Coronel Marcos Rocha, do União Brasil, é de direita e amigo íntimo de Bolsonaro; seu vice, Sérgio Gonçalves, segura a mesma bandeira.
Todos os congressistas eleitos por Rondônia para ocuparem assentos na Câmara Federal – sem exceção –, são de direita.
Jaime Bagattoli, do PL, senador da República, é bolsonarista de carteirinha; Marcos Rogério, da mesma legenda, embora de licença, pertence ao mesmo lado e dispensa apresentações.
Sobra Confúcio Moura, do MDB, que em tese seria de centro, a despeito de, na prática, demonstrar simpatia pelas teses do progressismo: isto sem qualquer entusiasmo ou militância ferrenha, deixando Cláudia de Jesus ilhada como única representante do povo de Rondônia a se postar à esquerda.
Ou seja, juntando governador; vice; oito deputados federais; vinte e três estaduais; e dois senadores, o placar fica 35 x 1 para os interesses da direita rondoniense sem inserir Confúcio lá ou cá em decorrência da neutralidade. Mas, vá lá, forçando bem a barra, chegamos a um 35 x 2.
Fica a pergunta-título deste editorial:
‘‘Birrinha’’ ideológica no estado majoritariamente de direita servirá a quem nos próximos quatro anos?
O abespinhamento retórico observado na cerimônia de posse, com Rodrigo Camargo alegando lutar contra todas as pautas da esquerda e a subsequente manifestação de Cláudia demonstram um pano de fundo com traços de infantilidade.
Desnecessário.
O presidente é Lula, o governador é Marcos Rocha e os deputados são esses. E Cláudia de Jesus merece respeito porque o Estado Democrático de Direito a elevou ao Poder; assim como Camargo, alçado ao mandato por vontade social expressada nas urnas.
Essa “rinha” de papo furado binário pertence ao passado; é imprescindível a Rondônia a existência autoridades que ajam pelo desenvolvimento de suas terras férteis e em prol de seu povo sofrido, porém incansável, batalhador, honesto e cumpridor rigoroso de suas obrigações para com o Estado.
E todos os eleitos e reeleitos, como representantes do povo e atuando pelo Estado, devem gerar ressonância diante dessas necessidades com muito menos conversinhas dicotômicas e bem mais mãos na massa e prestação de contas.
É compreensível que o “hype” gerado pelas redes sociais mexam com o brio de quem quer que seja, positiva ou negativamente, produzindo campanhas mais criativas com caras e bocas – e é tudo válido. Agora, tanto as vaias quanto urros de amor e palmas não significam absolutamente nada.
Tenham isso em mente.
Um mandato sem produção empírica não sobrevive à ovação de um milhão de cidadãos; assim como um legado frutífero, palpável, real, diligente e desenvolto não perece ao enfrentar uma saraivada infinita de apupos. Portanto, boa sorte a ambos e a seus 22 colegas de parlamento estadual.