Publicada em 02/02/2023 às 09h36
Equipes de resgate estavam ativas na manhã desta quinta-feira (2) para tentar encontrar sobreviventes nos escombros de um prédio de apartamentos em Kramatorsk, no leste da Ucrânia, destruído por um ataque russo que deixou pelo menos dois mortos. Kiev diz esperar uma grande ofensiva de Moscou para o primeiro aniversário da invasão do país, em 24 de fevereiro.
O ataque contra oito prédios no centro de Kramatorsk ocorreu por volta das 21h45 (pelo horário local, 16h45 em Brasília), na quarta-feira (1°). Um dos edifícios desabou completamente, disse a polícia de Donetsk em sua conta no Facebook. Cerca de 100 policiais foram mobilizados nas buscas por sobreviventes.
O governador da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, disse que o ataque deixou duas pessoas mortas e 21 feridas, oito das quais foram hospitalizadas e duas estão em estado crítico. Kyrylenko revisou para baixo um número inicial de vítimas, que registrava três mortes. Duas pessoas ainda estavam presas na madrugada de quinta-feira nos escombros do prédio, disse ele.
Batalha de Stalingrado
A Rússia comemora nesta quinta-feira o 80º aniversário da vitória soviética na Batalha de Stalingrado, um ponto de virada na Segunda Guerra Mundial e um símbolo de patriotismo. Esta celebração assume uma importância simbólica crescente à medida que se aproxima o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro.
As comemorações acontecem em meio a combates intensos entre forças russas e soldados ucranianos na ex-república soviética, cenário há quase um ano de uma guerra lançada, segundo o Kremlin, para "desmilitarizar" e "desnazificar" este país vizinho.
O presidente russo Vladimir Putin viajará a Volgogrado, ex-Satlingrado, para participar das comemorações, informou o Kremlin.
Considerada uma das mais sangrentas da história, com cerca de 2 milhões de mortos, somando as vítimas de ambos os lados, a Batalha de Stalingrado (1942-1943) mudou o rumo do conflito na União Soviética, desmoralizada até então por diversas derrotas avassaladoras.
A batalha ainda é glorificada pela Rússia, que reivindica o legado da União Soviética, como o evento que salvou a Europa do nazismo.
Em Volgogrado, cidade de 1 milhão de habitantes às margens do Volga, o governo decretou feriado nestas quarta e quinta-feira.
Na quarta-feira, véspera do 80º aniversário da vitória em Stalingrado, um busto de Stalin foi inaugurado na cidade, ao lado de dois líderes militares famosos por seu papel na batalha, Georgy Zhukov e Alexander Vasilyevsky.
As autoridades russas têm uma posição ambivalente em relação a Stalin desde a queda da URSS: denunciado oficialmente pelo Terror de Estado que orquestrou na década de 1930 e até sua morte em 1953, o ex-ditador e revolucionário comunista foi enterrado em frente ao Kremlin, na Praça Vermelha.
Apesar de controverso, seu nome ainda é reverenciado por muitos russos que destacam seu papel na derrota da Alemanha nazista contra a URSS. Com a homenagem, Putin continua usando o legado de Stalin como propaganda política para fortalecer seu governo e sustentar a narrativa de invasão da Ucrânia.
Nova ofensiva
As forças russas obtiveram recentemente seu primeiro sucesso em meses ao tomar Soledar, uma cidade no leste da Ucrânia. Muitos observadores acreditam que Moscou está preparando uma nova grande ofensiva por volta de 24 de fevereiro.
"Nós também precisamos estar prontos o mais rápido possível, e é por isso que precisamos de armas, para conter o inimigo", insistiu o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiï Reznikov, em entrevista na noite de quarta-feira no canal francês BFMTV.
Data simbólica
"Não subestimamos nosso inimigo. Vemos que ele está se preparando muito seriamente para a ofensiva", continuou Reznikov. “Achamos que, como eles vivem no simbolismo, tentarão algo por volta de 24 de fevereiro”, continuou. O ministro acredita que os russos "podem tentar uma ofensiva em dois eixos: no Dombass e no sul".
Depois de uma série de reveses humilhantes no outono do Hemisfério Norte, a Rússia mobilizou centenas de milhares de reservistas. Associado ao grupo paramilitar Wagner, o exército russo também intensificou os combates, em particular para tomar Bakhmut, uma cidade do Leste que vem atacando desde o verão.
Mais ao sul, a Rússia também empreendeu uma ofensiva em Vugledar. "Quanto mais o tempo passa, mais a situação piora", disse Oleksandre, 45, soldado ucraniano em seu posto de combate instalado a 5 km desta cidade.
Diante da ameaça, a Ucrânia está empenhada em uma corrida contra o tempo para obter armamentos mais poderosos. Em particular, deseja mísseis de alta precisão com alcance de mais de 100 km para destruir as linhas de abastecimento russas, a fim de superar seu déficit de mão de obra e armamento.
Até agora, o Ocidente se recusou a entregar esses sistemas e aeronaves de combate, temendo uma escalada da Rússia. O presidente dos EUA, Joe Biden, no entanto, disse na terça-feira (31) que discutiria o assunto com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Uma empresa de defesa dos EUA disse na quarta-feira que deseja fornecer dois drones de combate sofisticados para a Ucrânia por apenas US$ 1 simbólico. A proposta é sujeita à aprovação do governo dos EUA. Já o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, declarou estar disposto a enviar aviões de combate do tipo F-16, caso haja um consenso sobre o assunto na Otan.
Após longa procrastinação, europeus e americanos já deram sinal verde para entregas de tanques pesados modernos, mesmo que seu número ainda esteja abaixo do que a Ucrânia reivindica.
Total apoio da UE
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, garantiu à Ucrânia o total apoio da União Europeia (UE). Ela chegou a Kiev nesta quinta-feira (2), acompanhada por comissários europeus, para participar de uma reunião na véspera da cúpula UE-Ucrânia.
“É bom estar de volta a Kiev, minha quarta vez desde a invasão russa e desta vez com minha equipe de comissários”, escreveu ela no Twitter. "Estamos aqui juntos para mostrar que a UE está firme com a Ucrânia", acrescentou.
O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, acusou nesta quinta-feira o Ocidente de apoiar a Ucrânia para pôr fim à "questão russa", acusando nominalmente a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Von der Leyen "disse que o resultado da guerra deve ser a derrota da Rússia, e uma derrota da qual ela levará décadas para se recuperar", disse Sergei Lavrov em entrevista à televisão russa.
“Isso não é racismo, nazismo e uma tentativa de resolver a questão russa?”, disse ele, frisando que nessas observações ecoam “a solução final da questão judaica”, o Holocausto orquestrado pelos nazistas.
Lavrov insistiu que considera as declarações dos apoiadores ocidentais da Ucrânia "como uma tentativa de resolver definitivamente 'a questão russa'".