Publicada em 02/03/2023 às 07h49
Por Larina Rosa*
Muito se fala sobre casos de assédio, seja nas redes sociais, trabalho ou sala de aula a discussão está presente com argumentos intermináveis e quase sempre fundamentados sobre o assunto. No entanto quando ele de fato acontece paralisamos, desestabilizamos, ficamos sem ação e levamos muito tempo, as vezes até uma vida para identificar aquele desconforto que insiste em ficar, que tem nome e condições de provocar traumas e medo constante do outro.
Se identificar não é a parte mais fácil, denunciar o assédio é o triplo mais difícil. E foi com muito esforço que três alunas do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia do campus de Porto Velho criaram coragem e através do Centro Acadêmico denunciaram os casos de assédio dentro do curso.
O incômodo vem de somente um professor que já tem fama de comportamentos descabidos dentro e fora das aulas. Para quem não sabe o curso de jornalismo da UNIR era em Vilhena, no Cone Sul do estado, e foi transferido para Porto Velho em 2020. No campus de Vilhena, a popularidade era de professor/assediador entre os alunos, reputação que infelizmente foi transferida para o curso da Capital e continua sendo praticada contra as alunas.
Para agravar o horror a denúncia de mensagens com intuito sexual foi encaminhada pelo Centro Acadêmico em setembro do ano passado ao Departamento Acadêmico e chegou até a Comissão de Ética da Universidade, fazendo com o que o professor assinasse apenas um termo de ajuste e conduta e um processo na corregedoria em sigilo.
Enquanto isso as aulas da Universidade continuam normalmente, junto com as importunações do professor, porém agora com a decepção, vergonha e medo das alunas depois da denúncia sem resultado.
Até o momento o professor não foi afastado e me pergunto até quando as vítimas aguentarão estudar nessas condições. Elas seguem sem o apoio da Universidade, local onde o assédio e outros abusos são constantemente discutidos e com medo das retaliações pela denúncia e posição de autoridade do docente.
Já que os debates acadêmicos servem para incentivar o pensamento crítico, desenvolver ideias e melhorias na vida das pessoas através da educação, por que é que a universidade ainda permite que o aprendizado seja realizado nessas condições? Nesse caso específico o aprendizado sobre o assédio dentro da universidade é inválido pois ele só existe nos debates acadêmicos, mas não é efetuado com a devida importância na prática.
Todo meu apoio as alunas que denunciaram o caso, agora é a vez das Universidades, escolas e outras instituições respeitarem a discussão do assédio e acionar de uma vez por todas as providências cabíveis.
*Jornalista rondoniense que acredita na luta contra a violência de gênero e igualdade de direito das mulheres