Publicada em 24/03/2023 às 09h01
Os líderes dos países da União Europeia (UE) encerram nesta sexta-feira (24) o segundo e último dia de uma cúpula em Bruxelas, ofuscada pelas disputas entre França e Alemanha sobre o papel da energia nuclear no combate às mudanças climáticas e a proibição de motores térmicos a partir de 2035.
Oficialmente, as questões que incomodam, como a da energia nuclear, não chegaram à mesa dos 27 países do bloco. De acordo com a agenda oficial do encontro, os líderes europeus discutiram sobre a Ucrânia e as formas de fortalecer a competitividade da economia europeia, além da situação econômica do bloco.
No entanto, as crescentes disputas nas posições defendidas por Paris e Berlim ocuparam um espaço importante nas conversas.
Franceses e alemães chegaram ao encontro sob pressão. São as duas maiores economias da UE, com sólida tradição de atuar em conjunto e de mãos dadas em prol dos interesses do bloco, e por isso as crescentes tensões têm ofuscado outros temas.
Os dois líderes chegaram tensos. O presidente francês, Emmanuel Macron, enfrenta fortes manifestações e greves devido ao projeto de reforma da Previdência. Scholz chegou à capital belga em meio às divisões de sua coalizão governamental.
Há uma semana, as posições de Berlim e Paris voltaram a ficar em lados opostos na discussão sobre o papel da energia nuclear na proposta de regulamentação da Comissão Europeia sobre política industrial.
Em 16 de março, Bruxelas apresentou planos para aumentar a produção de tecnologia limpa na Europa, garantir que as licenças sejam concedidas de modo mais rápido e que os projetos tenham acesso facilitado a financiamentos.
A França, que utiliza energia nuclear, desejava que o setor fosse incluído na lista e conseguiu uma vitória parcial, já que aparece nas propostas anunciadas, embora os planos só possam ser aplicados aos reatores de quarta geração que ainda não existem.
A Alemanha, mas também o Luxemburgo, a Dinamarca ou mesmo a Espanha e a Áustria são contra. É errado considerar que a energia nuclear pode ser tratada como energia renovável, dizem os que estão ao lado do chanceler Olaf Scholz.
Motores de combustão
Mas os líderes europeus não esconderam, em particular, o desconforto provocado pela mudança brusca de posição da Alemanha, que agora bloqueia um plano para proibir os carros com motor de combustão interna a partir de 2035, uma iniciativa que já havia sido aprovada.
O plano ficou estagnado depois que a Alemanha passou a exigir que a Comissão Europeia apresente um programa que abra o caminho para veículos que funcionarão com combustíveis sintéticos.
A tecnologia, ainda em desenvolvimento, é defendida por montadoras alemãs e italianas de ponta e possibilitaria a prorrogação do uso de motores de combustão interna após 2035.
Também conhecidos como e-fuels, os combustíveis sintéticos são criados a partir de um processo químico, sem base de petróleo.