Publicada em 31/03/2023 às 10h14
Um Grande Júri de um tribunal de Nova York indiciou Donald Trump criminalmente por comprar o silêncio de uma atriz de filmes adultos em 2016. Assim, ele se tornou o primeiro presidente ou ex-presidente dos Estados Unidos a responder por acusações criminais.
O empresário, que pretende concorrer novamente à Casa Branca em 2024, foi indiciado pela Justiça por conta do pagamento de US$ 130 mil feito a atriz e diretora de filmes adultos Stormy Daniels.
"Isto é uma perseguição política e uma interferência no nível mais alto da história em uma eleição", afirmou, em comunicado, o 45º presidente dos Estados Unidos, que acusa os "democratas radicais de esquerda" de "caça às bruxas para destruir o movimento Make America Great Again (Faça a América grande novamente, em tradução livre)", que ele representa.
O magnata de 76 anos classifica o promotor federal do distrito de Manhattan, Alvin Bragg, responsável pelo caso, de "desgraça" e o acusa de fazer "o trabalho sujo" do presidente Joe Biden, cuja vitória nas eleições de 2020 Trump nunca reconheceu.
Também se manifestou nesse mesmo sentido o filho do empresário Eric Trump, que considera o indiciamento do pai como "uma péssima práxis processual do terceiro mundo" e um "objetivo oportunista contra um oponente político em um ano de campanha".
"Ninguém está acima da lei", disse Clark Brewster, advogado de Daniels, que garante ter mantido uma relação extraconjugal com Trump, o que ele sempre negou.
Rumores sobre um possível indiciamento do republicano, que já havia iniciado a campanha para as primárias do partido, circulavam na imprensa desde o início de março.
Contudo, no último dia 18, o candidato conseguiu atrair toda a atenção para si ao afirmar na plataforma Truth Social que seria "detido" na terça-feira (21) e teria que comparecer diante de um juiz três dias depois. Porém, nada disso aconteceu.
A imprensa americana informou na última quarta-feira (29) que o Grande Júri que analisa as provas contra Trump tinha previsto suspender as audiências nas próximas semanas por causa das férias escolares e de outras festividades religiosas, por isso que, antes do fim de abril, não se esperava a decisão que veio à tona nesta quinta-feira.
O Grande Júri tinha que se pronunciar a favor ou contra o indiciamento do ex-presidente.
Uma vez indiciado, Trump terá de comparecer ao tribunal de Manhattan para que um juiz o notifique sobre a acusação, ficando brevemente "sob custódia" para ser fotografado e passar pela coleta de impressões digitais. Em seguida, teria que se declarar culpado ou inocente das acusações pelas quais foi investigado.
A Justiça nova-iorquina tenta esclarecer se Trump é culpado de declaração falsa, uma infração, ou de violar a lei sobre financiamento eleitoral, um delito penal.
O então advogado de Trump e agora inimigo Michael Cohen, que foi ouvido pelo Grande Júri de Manhattan, contou que ficou encarregado de fazer o pagamento a Daniels em nome do antigo chefe, que depois o reembolsou.
Se o pagamento não tivesse sido devidamente creditado, poderia resultar em um delito menor por falsificação contábil. Contudo, também existe a possibilidade de violação da lei de financiamento da campanha eleitoral, um crime punido com quatro anos de prisão.
Segundo especialistas em direito, não será fácil comprovar essas acusações em um tribunal, por isso não há nenhuma certeza de que o ex-presidente possa ser condenado à prisão.
Uma eventual condenação pela Justiça estadual de Nova York não o impediria de se candidatar legalmente à Presidência dos Estados Unidos, segundo o professor de direito John Coffee. Contudo, isso "teria um efeito estigmatizante", acrescentou o especialista.
O magnata é alvo de diversas investigações penais, tanto a nível estadual quanto federal, por supostas irregularidades que poderiam ameaçar a nova corrida pela Casa Branca, entre as quais estão as tentativas de reverter a derrota na eleição de 2020 no estado da Geórgia.