Publicada em 20/03/2023 às 08h32
Mais duas mulheres vítimas de exploração sexual em garimpos na Terra Indígena Yanomami foram resgatadas pela Polícia Federal, em Roraima. Elas, uma adolescente, de 17 anos, e uma jovem, de 19, revelaram que eram submetidas a situações semelhantes à escravidão e obrigadas fazer programas até quando estavam menstruadas.
Além delas, essa semana a PF resgatou uma adolescente de 15 anos levada ao território para ser prostituída. A menina passou cerca de 30 dias numa área de garimpo e relatou ao Conselho Tutelar que fazia até 16 programas por noite.
Em depoimento à PF, as duas novas vítimas disseram que foram chamadas pelas redes sociais para trabalhar no cabaré de um garimpo na Terra Yanomami com a promessa de que seriam bem remuneradas com ouro.
Sem dinheiro e emprego em Boa Vista, elas aceitaram. Mas, chegando lá, se depararam com um dívida que seria o transporte até o local e descobriram que precisavam pagar por tudo: comida, estadia, internet e até preservativos. No sábado, fazia quatro dias que a adolescente tinha completado 17 anos.
Durante o período menstrual, as duas eram obrigadas a atender os clientes e a colocar na vagina um tampão de algodão para que os clientes não percebessem, disse à Rede Amazônica o delegado da PF que atua no caso, Marco Bontempo.
"Elas viviam em condições bastante precárias. Eram obrigadas, inclusive, a fazer programa no período em que estavam menstruadas. Eram obrigadas a até colocar um tampão para esconder a menstruação, e também eram impedidas de sair enquanto não quitassem a dívida, que só aumentava. Então era, assim, quase uma situação de escravidão o que elas viviam lá", detalhou o delegado.
A jovem e adolescente foram encontradas em um barco que deixava o território e foi abordado na região de região de Walopali, onde ocorre intensa fiscalização contra garimpeiros. Agentes identificaram que elas estavam em contexto de exploração sexual e as levaram para a PF em Boa Vista, onde prestaram depoimento.
Entre os detalhes sobre a exploração repassados à PF, as duas contaram que tinham hora certa para comer e, caso perdessem, ficavam sem alimentação. Além disso, havia uma ordem para que todos os dias tinham de estar prontas no início da noite para atender no cabaré e só cessariam quando não tivesse mais clientes.
"Nos cabarés tem alguns alojamentos onde elas ficam com horário fixo de alimentação, se perder o horário, não come. Inclusive, a partir das 18 horas, todas tinham que estar prontas para iniciar o trabalho nesses cabarés, e lá elas tinham que trabalhar até o último cliente sair, eram obrigadas, inclusive, no período em que estavam menstruadas", reforçou o delegado.
A PF já identificou que a rede para atrair meninas e mulheres para exploração sexual na Terra Yanomami inicia com o recrutamento pelas rede sociais. Os aliciadores, usando perfis falsos, atraem as vítimas com falsas promessas de emprego e ganhos irreais. A partir daí, elas as levam para os cabarés, onde elas ficam submetidas às escolhas dos chefes do esquema.
Nesse sábado, duas irmãs foram presas por envolvimento no esquema. O marido de uma delas e uma outra mulher estão foragidos. Segundo a PF, foi este grupo que atraiu a adolescente de 15 anos.
As três vítimas identificadas até agora identificadas pela PF não ganharam nada, nem em dinheiro, nem em ouro - isso porque a medida que elas ficavam nas mãos dos criminosos, mais a dívida aumentava. O delegado do caso que era "praticamente impossível que elas conseguissem quitar".
"Não chegaram a receber nada no período que estavam lá. A dívida, na verdade, só aumentou porque era praticamente impagável Elas tinham que custear a alimentação, a estadia. Então, é praticamente impossível".
No depoimento, as duas contaram que os chefes do cabaré chegaram a ficar com alguns pertences para garantir que elas não fugiriam. No entanto, as duas receberam ajuda para conseguir chegar à uma outra região. De lá, pegaram o barco que abordado na fiscalização da PF.
A PF seguem com as investigações sobre a exploração sexual na Terra Yanomami e incentiva que vítimas ou pessoas que saibam de situações semelhantes denunciem à PF em Roraima por meio do telefone (95) 36211500 ou comparecendo em nossa Superintendência.