Publicada em 08/03/2023 às 11h03
Porto Velho, RO – Mais um 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, em que ecoarão discursos efusivos nas redes sociais; nas fotos com declarações de amor; nas juras de respeito, senso de proteção, e manifestações de pretensos desejos envoltos à igualdade.
Na era do “Redpill”, que pode soar como movimento bobo e infantiloide, o perigo é mais latente que nunca. Há um aceite silencioso e permissivo deixando livre a seita cibernética onde residem tanto a conservação quanto a subsequente germinação de ódio ao feminino.
Tudo, em Pleno Século XXI. Essa ridícula revolta de homens de meia-idade frustrados liderando garotos ainda emocionalmente perdidos, socialmente escorraçados, e suscetíveis às mais escabrosas ideias, inaugura novo método incisivo de violência.
O radar foi ligado só porque um desses discursos saiu do estúdio e desembocou num caso de ameaça de morte, ganhou repercussão em rede nacional, porém, até então, tudo isso ocorria sob os olhares complacentes dos órgãos de fiscalização e controle.
O expediente soma-se a tantos outros, fazendo do Brasil um país horrendo para uma mulher viver, vez que, na realidade, a batalha diária é pela sobrevivência.
Por que falar sobre isso? Porque é um dos pontos insculpindo o 8 de Março como um “marco de goela” – fala-se demais e age-se pouco –, para muita gente, especialmente políticos e seus discursos rasos e vazios.
Rondônia, noticia o G1, é a segunda unidade da federação de todo o território brasileiro com maior índice de feminicídios.
E apesar de a representatividade do gênero ter aumentado um pouco nos espaços de poder, o acréscimo é insignificante diante de um panorama que urge por equidade e mais políticas públicas a fim de que haja pleno resguardo em termos de direitos.
Em 2022, cinco mulheres foram eleitas deputadas estaduais.
São elas: Ieda Chaves (União Braisl), Gislaine Lebrinha (União Brasil), Rosângela Donadon (União Brasil), Taíssa Sousa (PSC) e Claudia de Jesus (PT).
Antes eram só duas atuando nos corredores da Assembleia (ALE/RO), isto num campo de 24 vagas.
Logo, a supremacia ainda paira sobre homens.
A bancada federal, que outrora tinha três congressistas, agora tem apenas duas: Sílvia Cristina, do PL; e Cristiane Lopes, do União Brasil.
Mariana Carvalho, do Republicanos; e Jaqueline Cassol, do Progressistas, tentaram suceder a Acir Gurgacz, do PDT, no Senado Federal, mas restaram derrotadas pelo pecuarista Jaime Bagattoli, do PL.
E na principal Casa Legislativa municipal de Rondônia, ou seja, na Câmara Municipal de Porto Velho, com 21 nomes na composição edílica, somente Márcia Socorrista de Animais, do Progressistas; e Ellis Regina do Sindeprof, do Podemos, são mulheres.
Carla Redano já foi presidente da Câmara de Ariquemes e hoje é prefeita da cidade / Reprodução
Em 2020, dos 52 municípios de Rondônia, apenas seis passaram a ser geridos por mulheres. O mais populoso entre eles, Ariquemes, é comandado por Carla Redano, do Patriota. Cerejeiras, por sua vez, administrada por Lisete Marth (PV); Chupinguaia, por Dra. Sheila (DEM); Guajará-Mirim, por Raissa Bento (MDB); Pimenteiras, por Valeria Garcia (Progressistas); e Vale do Paraíso, por Professora Poliana Gasqui (PROS).
E fora dos cargos eletivos há mulheres honrosas, batalhadoras, socialmente engajadas que trabalham arduamente pelos seus ideais pensando no coletivo.
A jornalista-ativista Luciana Oliveira, a mais importante voz do progressismo no estado / Reprodução
Exemplos não faltam como as ativistas – cada uma em sua seara –, Luciana Oliveira, Heline Braga e Rayane Trajano.
A primeira, é jornalista independente, destemida, a voz mais importante do progressimo em terras rondonienses, forjando seu caminho profissional denunciando violações de direitos humanos; crimes embientais; atentados contra etnias e suas terras; expondo o garimpo ilegal, fazendo reportagens que ganham projeção internacional. Assim sendo, coragem tem nome.
A segunda, policial militar, preserva o ímpeto de defender os direitos de crianças atípicas e suas famílias, ganhando notoriedade ao falar sobre suas próprias experiências visando auxiliar pessoas vivendo realidades parecidas.
Rayane Trajano: a jovem ativista já encabeçou diversas campanhas sociais / Reprodução
Por fim, a jovem mulher Rayane Trajano se notabilizou por ampliar o debate público nas redes sociais criando e gerindo um dos maiores grupos de política no WhatsApp. Paralelamente, a ativista encabeçou inúmeras ações sociais arrecadando e distribuindo alimentos e insumos básicos de sobrevivência à população carente da Capital rondoniense.
Irma Fogaça: experiência e habilidade no processo legislativo / Reprodução
Há também articuladora Irma Fogaça, que, atualmente, trabalha como chefe de Gabinete do deputado Jean Mendonça (PL), contribuindo com sua experiência legislativa a fim de contribuir da melhor maneira possível com as atribuições do mandato.
Quando senadora, Fátima Cleide deu o "pontapé" inicial para o processo de Transposição / Reprodução
A ex-senadora da República Fátima Cleide, do PT, que, lá atrás, deu o pontapé inicial a fim de tornar possível a Transposição dos servidores estaduais para os quadros em extinção da União.
E as já citadas Jaqueline Cassol e Mariana Carvalho, que, a despeito do revés do ano anterior, têm envergadura eleitoral suficiente para regressar ao Poder em quaisquer eleições.
Jaqueline Cassol e Mariana Carvalho saíram, mas têm envergadura eletiva para voltar / Reprodução
Dito isso, o Rondônia Dinâmica entende a magnitude do 8 de Março, mas, mais que desejar felicidades, parabenizar, agradecer, dizer que ama, falar, falar, falar e falar, é necessário praticar diuturnamente e de forma incansável o respeito às mulheres protegendo seus direitos e batalhando, junto com elas, por plenitude igualitária em todos os níveis sociais.
Heline Braga defende os direitos de crianças atípicas e suas famílias / Reprodução
E é uma perspectiva que não comporta apenas palavras ao léu. O panorama propiciando o recrudescimento do ambiente ideal para florescer formatos inéditos de cólera antifeminina demonstra que o mundo está de um lado enquanto as frases de efeito estagnaram noutro canto, no passado. Portanto, existe a necessidade de combate real formado por um pacote postural completo, que inclui mudança coletiva de mentalidade. Tocar nas feridas. Denunciar seus suplícios. Abrir espaço às suas manifestações. Não julgar. Jamais julgar. E mais que qualquer coisa: ouvir e entender.