Publicada em 20/03/2023 às 08h17
O presidente da China, Xi Jinping, chegou nesta segunda-feira (20) à Rússia, em uma viagem que acirra as tensões com o Ocidente, que acusa Pequim de fornecer armas ao Exército russo.
Esta é a primeira visita do presidente chinês à Rússia desde o início da guerra na Ucrânia.
Desde o início deste ano, no entanto, Putin tem falado frequentemente sobre uma parceria "estratégica" com Pequim. Serviços de Inteligência do Reino Unido e dos Estados Unidos apontam que a Rússia começou a comprar armas da China para tentar fazer frente ao apoio do Ocidente à Ucrânia.
Xi se encontrará ainda nesta segunda com o presidente russo, Vladimir Putin, com quem dará uma entrevista à imprensa. Na terça-feira (21), debaterão uma "parceria estratégica" entre os dois países, de acordo com o governo russo. Ele volta a Pequim no dia seguinte.
Mas Pequim afirma que a viagem é o primeiro passo na tentativa da China de liderar uma nova rodada de negociação de paz entre Rússia e Ucrânia.
Uma guerra entre EUA e China está mais próxima?
Em um artigo publicado na edição desta segunda de um jornal estatal russo, Xi Jinping disse que sua proposta de paz servirá para "neutralizar as consequências do conflito e promover um acordo político". Mas ele disse saber que não é uma tarefa fácil.
"Problemas complexos não têm soluções simples", afirmou.
Já Putin, que chamou Xi Jinping de "velho amigo", disse que a visita do líder chinês confirma a parceria "especial" entre Rússia e China.
O serviço de inteligência do Reino Unido afirma que China deve fornecer equipamentos militares para a Rússia ao longo deste ano. Pequim negou.
Xi e Putin já haviam se encontrado em setembro do ano passado, no Uzbequistão, durante um encontro de líderes regionais.
Mandado de prisão a Putin
A visita de Xi acontece quatro dias depois de o Tribunal Penal Internacional, baseado de Haia, na Holanda, emitir um mandado de prisão contra Vladimir Putin pelo crime de "deportação ilegal" de crianças da Ucrânia à Rússia.
Moscou já vinha sendo acusada por organizações não-governamentais, por Kiev e até por uma investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) de sequestrar crianças em regiões ucranianas tomadas pelo Exército do país e de levá-las para centros de "reeducação" em território russo. O próprio Kremlin já admitiu o envio dos jovens ucranianos à Rússia, mas alega tratar-se de órfãos.
O Kremlin chamou a decisao de "sem sentido". A Rússia não reconhece a Corte Internacional de Haia - criada em 1998 e que se reporta apenas aos países que ratificaram (ou seja, adotaram internamente como lei), o que não é o caso do governo russo.
No sábado (18), Putin desafiou esse mandado de prisão e fez uma visita surpresa à Mariupol, a cidade no sul da Ucrânia fortemente bombardeada por tropas russas e atualmente controlada por Moscou.
A cidade foi arrasada por ataques russos logo no começo da guerra. Mariupol era considerada estratégica para Putin, por ter saída para o Mar Negro e estar próximo à Crimeia, a península ucraniana invadida e ocupada pela Rússia em 2014.
Em 9 de março de 2022, apenas 15 dias após o início da guerra, uma maternidade da cidade foi atingida por bombardeios russos, de acordo com a Câmara Municipal do município. O Ministério da Defesa da Rússia negou que ordenou o ataque aéreo e acusou a Ucrânia de forjar o bombardeio.
Mas imagens registraram a destruição e grávidas tendo de deixar o lugar às pressas em pleno trabalho de parto e carregadas em maca.
A guerra da Ucrânia completou um ano no fim de fevereiro, com a perspectiva de seguir se arrastando ao longo de 2023 e ameaças de Moscou de uma retomada de territórios. O governo russo também tem dado indícios de uma possível parceria com a China.
Kiev, por outro lado, tem se apoiado no envio de armas e equipamentos militares por países do Ocidente, com os tanques alemães Leopard 2, para conseguir expulsar as tropas russas, que controlam atualmente cerca de 20% do território ucraniano, no leste do país.