Publicada em 17/04/2023 às 08h36
Depois dos quatro anos do desgoverno Jair Bolsonaro no Brasil, entre 2019 e 2022, cujo legado maior foi a ruindade, a morte de indígenas, o preconceito contra as minorias, os ataques à democracia, a misoginia, o roubo de joias, o negacionismo à ciência, o incentivo à destruição ambiental, a corrupção às escondidas, a homofobia e muitos outros tipos de maldades e anacronismos, eis que surgem perguntas bastante incômodas: por que em pleno século XXI, tanta gente ainda se identifica com estas pautas totalmente repudiadas no mundo mais civilizado? Por que o bolsonarismo tem hoje, segundo pesquisas, mais de 22 milhões de seguidores só no Brasil? Por que Jair Bolsonaro teve nas últimas eleições quase 60 milhões de votos apenas no segundo turno? Por que no primeiro turno, direita e extrema-direita elegeram a grande maioria de seus candidatos?
Muitos dizem que se o “genocida” ex-presidente tivesse trazido a vacina contra a Covid-19 ainda em novembro de 2020 e não tivesse debochado tanto dos mortos e dos infectados pelo vírus, ele não encontraria adversários à altura e teria ganhado as eleições com mais de 75 por cento dos votos válidos. A maldade, portanto, não está somente no “Mito”, mas em todos aqueles que lhe deram apoio político, nele votaram e ainda hoje o defendem com unhas e dentes. Óbvio que a própria opinião política conservadora não quer mais se desgastar com as barbaridades ditas pelo ex-chefe da nação. Bolsonaro já é “carta fora do baralho” e assim muita gente hoje já quer se livrar dele. Por isso, muitos comentaristas políticos apostam que ele não será preso agora pelos crimes que cometeu, mas perderá seus direitos políticos e certamente ficará no ostracismo por um bom tempo.
Winston Churchill teria dito que a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras demais formas. Ou seja, hoje em dia baseando-se nesta afirmação, o mundo dito civilizado condena ferozmente as ditaduras, o fascismo, a censura, as perseguições políticas, o desrespeito aos direitos humanos, os golpes de Estado, os massacres, os genocídios e também todas as outras monstruosidades que se perpetrem contra os povos. Mas a pergunta insiste: por que no Brasil, Jair Bolsonaro e seus asseclas são ainda tão endeusados por seus seguidores e puxa-sacos? Talvez a resposta seja: por causa do dinheiro e do poder. O sujeito pode até ser contra toda esta relação de maldades, de preconceitos e de arbitrariedades, mas se ganhar bem para segui-la que mal há nisso? Pensa-se: “às favas com a democracia. Primeiro eu, depois Mateus”.
“Sou contra toda e qualquer censura usada pelos meios de comunicação, mas se eu recebo muito dinheiro do prefeito, da Assembleia Legislativa ou do governador em exercício para não falar mal de nenhum deles, não vejo problema algum”, devem pensar, por exemplo, muitos dos donos desses mesmos meios. Numa hora dessas, os picaretas proprietários dessa abjeta imprensa escroque sequer se lembram do grande Joseph Pulitzer. “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”, disse o jornalista e pensador. O dinheiro sempre corrompeu e ainda corrompe a quase todos. Assim, as muitas maldades de Jair Bolsonaro e do chamado Bolsonarismo encontraram eco no meio de grande parte da nossa ambiciosa sociedade. Por isso, para muitos não interessa se temos capitalismo, comunismo, socialismo, ditadura ou a democracia. “Sou do mal, mas ganho bem”. E daí?
*Foi Professor em Porto Velho.