Publicada em 03/05/2023 às 14h16
A investigação da Polícia Federal sobre fraude nos dados de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e de familiares e ajudantes dele, apontam que informações falsas sobre a imunização foram inseridas e excluídas do sistema do Ministério da Saúde no fim de 2022, às vésperas da viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos, pouco antes do fim do mandato.
Segundo apurou a TV Globo, em 21 de dezembro do ano passado, foram incluídas informações sobre a aplicação de duas doses da vacina da Pfizer contra Covid-19 no ex-presidente. Após o lançamento no ConecteSUS, é possível gerar um comprovante de imunização.
De acordo com o que foi inserido no sistema Rede Nacional de Dados em Saúde, Bolsonaro teria recebido a primeira dose em 13 de agosto de 2022 e a segunda, em 14 de outubro do mesmo ano, no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias (RJ).
As informações foram inseridas pelo secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, preso na operação desta quarta-feira (3).
Em 27 de dezembro, os dados foram excluídos pela servidora Claudia Helena Acosta Rodrigues Da Silva, sob alegação de "erro". Ela foi alvo de mandado de busca e apreensão.
Segundo a Polícia Federal, o ajudante de ordens Mauro Cid Barbosa era quem controlava o cadastro de Jair Bolsonaro no ConecteSUS. Os acessos à plataforma foram feitos por um computador atribuído a Cid.
Três dias após a exclusão das informações, em 30 de dezembro, Bolsonaro viajou aos Estados Unidos, onde permaneceu até março deste ano.
Nesta quarta, após a operação, o ex-presidente voltou a negar que tenha sido vacinado contra a Covid-19. "Não existe adulteração da minha parte, eu não tomei a vacina", disse a jornalistas, como mostra o vídeo abaixo.
Nesta quarta, a Polícia Federal cumpriu 16 mandados de busca e apreensão e seis de prisão preventiva, contra suspeitos de participação no suposto esquema de falsificação dos dados de vacinação.
O ex-presidente Bolsonaro é um dos alvos de mandado de busca e apreensão, que foi cumprido na casa onde ele mora, no Jardim Botânico, no Distrito Federal. Agentes apreenderam o celular dele.
A TV Globo apurou que os alvos de busca são:
Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente da República
Mauro Cesar Barbosa Cid, tenente-coronel, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
Gabriela Santiago Ribeiro Cid, esposa de Mauro Cid
Gutemberg Reis de Oliveira, deputado federal pelo MDB-RJ
Luís Marcos dos Reis, sargento do Exército, ex-integrante da equipe de Mauro Cid
Farley Vinicius Alcântara, médico que teria envolvimento no esquema
João Carlos de Sousa Brecha, secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ)
Max Guilherme Machado de Moura, segurança de Bolsonaro
Sergio Rocha Cordeiro, segurança de Bolsonaro
Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro
Eduardo Crespo Alves, militar
Marcello Moraes Siciliano, ex-vereador do RJ
Ailton Gonçalves Moraes Barros, candidato a deputado estadual pelo PL-RJ em 2022
Camila Paulino Alves Soares, enfermeira da prefeitura de Duque de Caxias
Claudia Helena Acosta Rodrigues Da Silva
Marcelo Fernandes de Holand
Já os seis presos são:
tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
policial militar Max Guilherme, segurança de Bolsonaro
militar do Exército Sérgio Cordeiro, segurança de Bolsonaro
secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha
sargento do Exército Luís Marcos dos Reis, ex-integrante da equipe de Mauro Cid
Ailton Gonçalves Moraes Barros, candidato a deputado estadual pelo PL-RJ em 2022
A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no inquérito que apura uma milícia digital contra a democracia. Os mandados foram cumpridos no Distrito Federal e no Rio de Janeiro.
Como funcionava?
Segundo a PF, os suspeitos inseriram dados vacinais falsos sobre Covid-19 em dois sistemas exclusivos do Ministério da Saúde: o do Programa Nacional de Imunizações e da Rede Nacional de Dados em Saúde.
A corporação afirma que o objetivo era emitir certificados falsos de vacinação para pessoas que não tinham sido imunizadas e, assim, permitir acesso a locais onde a imunização é obrigatória.
A apuração aponta que os documentos fraudados teriam sido usados para a entrada de comitivas de Bolsonaro nos Estados Unidos, onde o ex-presidente permaneceu entre janeiro e março deste ano.
A TV Globo e a GloboNews apuraram que, além do certificado de Bolsonaro, também teriam sido forjados os documentos de vacinação:
da filha caçula do ex-presidente, hoje com 12 anos;
do ex-ajudante de ordens Mauro Cid Barbosa, da mulher e da filha dele.
Segundo a corporação, as fraudes ocorreram entre novembro de 2021 e novembro de 2022, e "tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários".
A PF afirma ainda que a inserção de informações falsas quanto à vacinação pretendia "manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19".
Os suspeitos são investigados pelos crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.