Publicada em 15/05/2023 às 08h50
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e o líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu, vão disputar o segundo turno das eleições presidenciais do país no próximo dia 28 de maio.
A confirmação de que haverá um segundo turno, como vinha sendo apontado na contagem de votos, foi anunciada na manhã desta segunda-feira (15) pelo Conselho Superior Eleitoral da Turquia.
Com 99,87% das urnas apuradas, Erdogan ficou em primeiro lugar, com 49,51% dos votos, e Kilicdaroglu em segundo, com 44,88%, confirmando as previsões de uma disputa acirrada entre os dois candidatos.
Líder do conservador e religioso Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), Erdogan chegou ao poder em 2003, inicialmente como primeiro-ministro.
Em 2017, ele liderou a troca do regime político de parlamentarismo para o presidencialismo após sair vitorioso de uma tentativa de golpe de Estado, ocorrida em 2016. Desde então, venceu todas as eleições presidenciais.
Com a expressão cansada, o candidato à reeleição compareceu à sua seção eleitoral em Üsküdar, um bairro conservador de Istambul, para votar, desejando "um futuro próspero para o país e para a democracia turca".
Em uma declaração, Erdogan destacou o "entusiasmo dos eleitores", principalmente nas áreas mais atingidas pelo terremoto de 6 de fevereiro, que deixou pelo menos 50 mil mortos.
O candidato da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, votou pouco antes em Ancara.
O oponente mais poderoso que Erdogan já teve
Kemal Kilicdaroglu, de 74 anos, o líder da oposição, é um político secular de centro-esquerda. Ele é do Partido Republicano do Povo, mas lidera uma aliança de seis partidos para tentar vencer o atual presidente.
A aliança política que concorre pela oposição inclui islâmicos e nacionalistas. Ele conseguiu também o apoio do partido curdo, que tem cerca de 10% dos votos.
Entre as promessas, está a de desmobilizar o sistema presidencial que Erdogan instalou ao parlamentarismo.
Por que Erdogan perdeu força
A economia da Turquia enfrenta problemas. A alta inflação – uma das mais altas no mundo, tendo passado de 80% em 2022 – tem corroído o poder de compra das famílias.
Além disso, o governo de Erdogan foi criticado pela reposta ao terremoto que atingiu o sul da Turquia e matou 50 mil pessoas no início de 2023. O governo foi acusado de ter liberado edifícios com projetos que não previam resistência a tremor de terra.
A campanha eleitoral atual é baseada em conquistas passadas, ele apresenta-se como o único político que pode reconstruir vidas após o terremoto de 6 de fevereiro no sul da Turquia, que destruiu cidades e matou mais de 50 mil pessoas.
Durante seus atos de campanha, Erdogan tentou retratar a oposição como conivente com “terroristas”, bem como com potências estrangeiras que desejam prejudicar a Turquia. Em uma tentativa de consolidar sua base conservadora, ele também acusou a oposição de apoiar os direitos LGBTQ e de serem bêbados.
Além disso, o presidente turco elevou gastos públicos antes das eleições e aumentou os valores do salário-mínimo e das aposentadorias.
Política externa
As eleições na Turquia também prometem afetar a política externa do país — assunto que já está sob os holofotes há alguns meses.
Erdogan é um antigo aliado de Vladimir Putin, presidente da Rússia, e a forma como age (ou deixa de agir) perante a guerra na Ucrânia não tem agradado os colegas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), já que o grupo está do lado ucraniano.
Se Kilicdaroglu sair vitorioso, no entanto, este cenário pode mudar. Em mais de uma ocasião, o candidato afirmou ter interesse em fortalecer os laços do Estado turco com a Otan e, inclusive, acredita que o país deveria pleitear uma vaga na União Europeia.
Quanto à guerra russa na Ucrânia, Kilicdaroglu confirmou que, se eleito, irá impor sanções à Rússia, algo que Erdogan pouco fez até agora. Isso isolaria Moscou ainda mais no cenário internacional e poderia ter desdobramentos importantes, segundo os especialistas.