Publicada em 20/06/2023 às 14h42
O tempo de leitura deste texto é de mais ou menos 15 minutos. Enquanto você estiver cumprindo esta tarefa, cerca de 18.900 árvores, em média, terão sido derrubadas na Amazônia. Lamento informar, não adianta parar de ler na terceira linha, o desmatamento deve acontecer do mesmo jeito.
CONFIRA EM:
A cada segundo, 21 árvores são derrubadas na Amazônia
O cálculo foi feito com base no mais recente Relatório Anual de Desmatamento (RAD2022) do MapBiomas, que consolida dados de todo o território nacional e seus biomas. Ao longo de todo o ano de 2022 foram identificados, validados e refinados 76.193 alertas de desmatamento, que totalizaram 2.057.251 hectares de devastação. Um crescimento de 22,3% em relação ao ano de 2021. Entre as principais constatações do levamento, três se destacam:
- A cada segundo, cerca de 21 árvores foram derrubadas na Amazônia;
- O dia com maior área desmatada foi o 25 de julho: em 24 horas, o equivalente a 8,4 mil campos de futebol de florestas veio abaixo;
- Surpresa: terras indígenas e comunidades remanescentes de quilombolas permanecem sendo os territórios mais preservados do Brasil
Entre os muitos e relevantes números do relatório do MapBiomas, os mais interessantes são aqueles que mostram as pistas, mais ou menos óbvias, de quem são os desmatadores, quem são os criminosos. Uma mistura de “Onde está Wally?” com “Siga o Dinheiro”, no caso siga os satélites e acompanhe os resultados. Vamos começar do geral para o específico. Em primeiro lugar, tem desmatamento em todo o Brasil. Dos 5.570 municípios brasileiros, 3.471 (62%) tiveram pelo menos um evento de desmatamento detectado e validado em 2022. Entre os 3.471 municípios que tiveram alertas em 2022, apenas 50 responderam por 52% da área total desmatada no Brasil, sendo que 17 desses municípios estão no estado do Pará e oito no Amazonas.
O município de Lábrea, no Amazonas, com 62.419 hectares desmatados, superou a área destruída do município de Altamira, no Pará, campeão de área desmatada nos últimos três relatórios. O mesmo onde fica a Usina de Belo Monte. Só por curiosidade, a cidade de Lábrea é governada pelo prefeito Gean Campos de Barros (PMDB), que já foi acusado de superfaturamento nas compras públicas e envolvimento com trabalho análogo à escravidão.
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Amacro e Matopiba: velhos focos de atenção
Duas regiões muito conhecidas dos fiscais do Ibama também aparecem em destaque no levantamento do MapBiomas. Em Matopiba, que reúne os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentrou-se 26,3% da área desmatada no Brasil em 2022. Foram 4.975 alertas e 541.803 hectares desmatados – um aumento de 37% em relação a 2021. A região do Matopiba foi onde se concentrou a maior parte dos desmatamentos no Cerrado: cerca de 82,1% da área de supressão de vegetação nativa do bioma. Também é no Matopiba onde estão os 10 municípios que mais desmataram no Cerrado em 2022.
Já na região de Amacro (Acre, Amazônia e Rondônia), foram 7.055 alertas e 231.955 hectares desmatados em 2022 – 11,3% da área desmatada no Brasil e aproximadamente 19,4% do que foi perdido na Amazônia. Houve um incremento de 12,3% do desmatamento nessa região em 2022 em relação a 2021.
Outra constatação relativamente óbvia é de que os desmatamentos ocorrem, majoritariamente, em áreas de floresta, com 64,9%. As regiões de Savana representam 31,3%, sendo o restante formações campestres, com 3,6%.