Publicada em 16/06/2023 às 14h58
"É uma tragédia de proporções inimagináveis, também por ser perfeitamente evitável. Pedimos uma investigação urgente, independente e imparcial sobre as causas da catástrofe e o fornecimento de assistência e apoio aos sobreviventes. Existem muitas questões que necessitam de resposta", considerou Adriana Tidona, pesquisadora sobre o tema das migrações na organização não governamental (ONG) de direitos humanos.
A demora nas operações de busca e salvamento, as causas do naufrágio da embarcação, que poderia transportar entre 600 a 700 pessoas, e a necessidade de transparência, verdade e justiça para aqueles que perderam a vida, os sobreviventes e suas famílias são ainda questões colocadas pela AI.
"Enquanto o mundo aguarda que os sobreviventes desta tragédia tenham a oportunidade de relatar as suas experiências, a Anistia Internacional está profundamente preocupada com a falta de clareza na versão das autoridades gregas sobre o incidente", indica o texto.
"A guarda costeira grega informou que pessoas não especificadas 'recusaram' a assistência grega e pretendiam continuar em direção à Itália. No barco encontravam-se centenas de pessoas e não é possível que todas tenham sido consultadas. O governo grego tem responsabilidades específicas sobre cada pessoa que se encontrava no barco, que estava em dificuldades", prossegue a AI.
Alguns sobreviventes já relataram que o barco colapsou quando a guarda costeira grega tentava rebocá-lo para fora de suas águas territoriais.
"Enquanto uma investigação é urgentemente necessária para esclarecer as circunstâncias do incidente, essa tragédia é a última de uma longa série de naufrágios na Grécia e ao longo da Europa que poderiam ter sido totalmente evitados. Os políticos europeus poderiam ter evitado que isso acontecesse se rotas seguras e legais tivessem sido estabelecidas para as pessoas chegarem à Europa. Essa é a única forma de evitar essas tragédias que ocorrem com frequência".
A AI também apela à Frontex, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira, para fornecer informações e imagens aéreas, que considera essencial para reconstruir o incidente, especialmente quando um de seus dispositivos de vigilância aérea relatou ter detectado a embarcação na manhã de terça-feira.
Ao dirigir-se às autoridades gregas, a ONG também sugere que seja fornecido o apoio psicológico necessário aos sobreviventes e às famílias afetadas, assim como acesso a formas de comunicação com seus entes queridos, acolhimento seguro e um relatório sobre as pessoas desaparecidas.
Segundo os sobreviventes, o barco, que teria partido de Tobruk, na Líbia, em 09 de junho, transportava entre 600 a 700 pessoas, incluindo cerca de cem crianças, a maioria de nacionalidade egípcia, síria e paquistanesa.
Esse naufrágio já é considerado um dos mais graves dos últimos anos entre a África e a Europa. Ele se soma a
uma série de tragédias que, desde 2014, no Mar Mediterrâneo, custaram a vida de mais de 20.000 pessoas, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Em abril passado, a ONU indicou que o primeiro trimestre de 2023 foi o mais mortal desde 2017, com pelo menos 441 vidas perdidas, um número ainda distante da realidade, de acordo com a OIM.
Esses números não incluem o Oceano Atlântico, outro cemitério marítimo. Segundo estimativas da ONG espanhola Caminando Fronteras, entre 2018 e 2022, 7.865 pessoas provenientes de 31 países, incluindo 1.273 mulheres e 383 crianças, perderam a vida ao tentar alcançar as Ilhas Canárias a partir da África Ocidental.