Publicada em 09/06/2023 às 14h44
Com inf. Amazônia Real
Porto Velho, RO – Em reportagem especial, o site Amazônia Real abordou “A fome pelo ouro do rio Madeira”, já no título da matéria. Escrita pelo jornalista Francisco Costa com fotos de Bruno Kelly, a notícia conta que no rio Madeira, a agitação dominical toma conta de uma comunidade flutuante.
As balsas estão alinhadas, formando uma plataforma extensa que convida a um passeio de uma ponta à outra. Ancoradas com cabos de aço e resistentes cordas, elas resistem bravamente às forças das águas, à correnteza e à chuva, evitando qualquer arrasto indesejado para as profundezas. Nesse cenário, os garimpeiros aproveitam o dia para resolver pendências financeiras, sem cerimônia alguma: contam montes de dinheiro vivo, saboreiam churrasco, bebem cerveja gelada e curtem música alta. Enquanto a comida não está pronta, os mais atrasados aproveitam a manhã para separar um pouco de ouro da lama ou fazer a manutenção de seus equipamentos, preparando-se para a próxima semana de trabalho. As máquinas do garimpo operam incansavelmente, dia e noite, liberando uma fumaça nauseante de diesel queimado, quase abafando o aroma da carne assando.
CONFIRA A ÍNTEGRA NO LINK ORIGINAL EM:
A fome pelo ouro do rio Madeira
É através de um dispositivo chamado "sarinho", uma roda equipada com uma grande manivela de madeira, que controlam a mangueira de oito polegadas lançada ao fundo do rio Madeira. Com ele, sugam a água barrenta, os sedimentos e, com sorte, algumas partículas de ouro. Todo o líquido passa por uma esteira revestida de carpetes aveludados, que realizam a filtragem e retêm pequenas pepitas de ouro puro. Nessa etapa, os garimpeiros despejam mercúrio nos tapetes, um metal pesado que facilita a separação dos resíduos e realça o brilho dourado do minério precioso. Infelizmente, a mesma água contaminada com essa substância é devolvida ao rio, transformada em metilmercúrio, altamente tóxico.
As balsas são verdadeiras casas flutuantes, onde famílias inteiras encontram seu lar. Maria Selma da Silva, uma imigrante cearense de 56 anos, vive com seu marido em uma dessas moradias improvisadas, feita de madeira. O andar inferior é dedicado à extração ilegal do ouro, enquanto o superior é como qualquer outra casa comum. A estrutura é simples, com pequenos cômodos, banheiro e paredes sem pintura. Existem espaços individuais para dormir, comer e uma cozinha modesta. Rústico, porém extremamente limpo. Nos dias quentes, o teto de zinco transforma o ambiente em uma verdadeira sauna.
No local movimentado em que a reportagem da Amazônia Real encontrou Maria Selma, outras 26 balsas estavam presentes, com uma média de até cinco pessoas em cada uma delas. Maria Selma é uma das lideranças, conhecidas como "mandadoras", responsáveis por controlar as operações no garimpo. Suas mãos perderam a suavidade, tornaram-se ásperas devido ao trabalho árduo. Seu rosto exibe as marcas do tempo e do sol escaldante do Norte. Ela cuida de todas as etapas, desde a extração do ouro até a lavagem de roupas, a limpeza do local, a compra de mantimentos, o controle financeiro e até a manutenção do motor, quando seu marido não tem condições. Ao contrário de outras balsas, ela prefere trabalhar apenas com o marido, evitando pagar comissões que podem variar entre 20% e 30% dos lucros. A garimpeira lamenta não ter ingressado na atividade durante a última corrida do ouro, nos anos 1980, quando o preço do minério valorizou rapidamente. Na década seguinte, os depósitos de ouro de fácil extração já davam sinais de declínio.
O casal de garimpeiros trabalha quase ininterruptamente, revezando-se ao longo do dia, para obter um lucro semanal de cerca de 3 mil reais. Comparado com o salário mensal médio de 1.302 reais de um rondoniense, é uma fortuna. No entanto, Maria Selma comenta que todos esses anos de trabalho árduo não lhe trouxeram riquezas significativas. Ela possui apenas sua balsa e um carrinho, e já possuía sua casa antes de se aventurar no garimpo. A atividade permite que ela passe de três a seis meses flutuando no rio Madeira, enquanto o restante do tempo é passado em sua casa em terra firme.