Publicada em 14/07/2023 às 14h17
A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) está questionando uma informação dada pela Petrobras de que foram comprovados somente dez casos de assédio e importunação sexual entre as 81 denúncias de funcionárias da empresa feitas entre 2019 e 2022. “É no mínimo estranho esse número apurado pela companhia”, afirmou, em nota, Natália Russo, diretora da entidade sindical.
Na manhã de hoje (14), o Grupo de Trabalho (GT) Diversidade da FNP informou que se reunirá com a diretoria de Recursos Humanos da estatal e cobrará esclarecimentos sobre investigações e providências contra gestores que teriam sido coniventes.
Em nota, a estatal informou que cinco denúncias resultaram em demissão e que as demais confirmadas motivaram suspensões ou outras providências administrativas. Um caso continua sendo investigado pelo Grupo de Trabalho criado há dois meses para analisar processos e ações sobre a prevenção, detecção e correção de violências sexuais.
Dificuldade
Segundo a dirigente, um dos fatores que pode estar dificultando as apurações é o tempo, já que muitos dos casos de assédio ocorreram há vários anos. “O assédio é um caso muito sensível e subjetivo. Se as pessoas acharem que a materialidade das provas é só a confissão do culpado ou um vídeo gravado, que mostre o fato cabalmente, poderemos nunca comprovar o crime. Por isso, a palavra da vítima tem que ser considerada, além de ouvir testemunhas. Ninguém se expõe assim a troco de nada”, argumentou.
Na reunião de hoje, os diretores da FNP vão solicitar um compromisso da Petrobras de permitir o acesso e a participação das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipas) e do sindicato nos processos de apuração.
“É muito importante que a Cipa e o sindicato sejam informados dos casos com o compromisso de sigilo, assim como ocorre com acidentes de trabalho e participem da investigação caso a vítima autorize”, explicou a diretora.
O Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro lamentou que tantos outros casos não tenham sido reconhecidos. Segundo o diretor da entidade, Antony Devalle, a Petrobras dispõe de vários meios de investigação. Devalle reivindicou a participação do Sindipetro na apuração das denúncias.
“Não é incomum que se tenha apenas a palavra da pessoa que se apresenta como vítima. Aliás, quanto mais elaborado e sutil for o assédio, mais tende a se ter poucas provas materiais. Então, é muito importante que a palavra de quem se apresenta como vítima seja não apenas acolhida como seriamente levada em consideração, ainda que sem condenar de antemão quem quer que seja. A Petrobras dispõe de vários meios de investigação. Tem condições de ir mais a fundo”, disse Devalle.