Publicada em 15/07/2023 às 10h03
"O Santo Padre nomeou bispo de Xangai, China continental, o monsenhor Giuseppe Shen Bin, transferindo-o da diocese vizinha de Haimen", disse o Vaticano num comunicado, citado pela agência France-Presse.
Em outubro de 2022, o Vaticano e o regime comunista de Pequim renovaram por dois anos o acordo histórico, assinado em 2018, sobre a espinhosa questão da nomeação de bispos na China, num cenário de tensões sobre a situação dos católicos naquele país.
No entanto, no final de novembro, o Vaticano expressou a sua "surpresa" e o seu "pesar" pela nomeação de um bispo numa diocese da China não reconhecida pela Santa Sé, acreditando que isso violava o acordo de 2018, renovado pela primeira vez em 2020 e que previa a decisão num processo comum.
Pequim decidiu depois nomear Shen Bin para bispo de Xangai, novamente sem consulta.
O acordo Vaticano-China, cujo conteúdo não foi tornado público, tem como objetivo reunir os católicos chineses divididos entre as Igrejas oficiais e clandestinas, dando ao Papa a última palavra na nomeação dos bispos.
Num comunicado separado divulgado hoje, o número dois do Vaticano e chefe da diplomacia, Pietro Parolin, justificou a decisão do Papa com o seu desejo de não envenenar ainda mais as relações com Pequim.
"Estas duas transferências foram decididas sem a participação da Santa Sé. Esta forma de proceder não parece corresponder ao espírito de diálogo e colaboração estabelecidos entre o Vaticano e a China", disse.
O Papa, no entanto, "decidiu regularizar a anomalia canónica criada em Xangai para o bem da diocese e um melhor exercício do ministério pastoral do bispo".
"Isso permitirá a monsenhor Shen Bin trabalhar com grande serenidade", acrescentou.
O Vaticano, sublinhou Parolin, deseja que, a partir de agora, as duas partes trabalhem para "prevenir situações de discordância que geram divergências e mal-entendidos" e se esforcem por respeitar "o princípio fundamental de consenso nas decisões relativas aos bispos".
Desde a assinatura do acordo entre o Vaticano e a China, em 2022, o texto gerou críticas dentro da Igreja, com alguns a considerarem-no como um estrangulamento de Pequim sobre os cerca de 10 milhões de católicos no país, onde igrejas foram destruídas e creches religiosas fechadas, enquanto a restrição das liberdades religiosas também é apontada.