Publicada em 24/07/2023 às 15h51
Caros leitores
Esta é a primeira edição da Coluna Ponto & Vírgula, que será publicada semanalmente, sempre às segundas-feiras, aqui no Rondônia Dinâmica. São vários os objetivos que nos levam a trazer este conteúdo onde trataremos, basicamente, da Língua Portuguesa em todas as suas manifestações.
A imensa variação linguística regional de nosso país, com expressões próprias de cada localidade, somada à influência de diversas culturas, da ciência ou da tecnologia, produz situações sempre peculiares, curiosas e até hilárias. O ritmo da Língua Portuguesa é bastante dinâmico e vai competindo com seu padrão formal. Com isso, muitas dúvidas surgem a todo momento por parte dos falantes.
É bom lembrar que “língua é uso”, ou seja, as palavras do uso cotidiano costumam ser incorporadas pelos dicionários depois de consagradas pelo povo. Neste último mês de abril, por exemplo, o dicionário Michaelis surpreendeu ao anunciar que havia transformado o apelido de Edson Arantes do Nascimento, “Pelé”, em verbete de sua versão digital. Agora, “Pelé” oficialmente diz respeito a uma pessoa qualificada como excepcional, incomparável ou única em sua área de atuação.
O dicionário da Academia Brasileira de Letras, o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), em sua sexta atualização de maio de 2021, incluiu mais de mil novas palavra como por exemplo: “home office”, “covid-19”, “feminicídio” e “negacionismo. Nossa língua agora possui um total de 382 mil verbetes oficiais.
Para estas questões, e muitas outras, a coluna Ponto & Vírgula quer dar sua contribuição, explicando, exemplificando, traduzindo, comentando, ou apenas entretendo, com o intuito de registrar de forma descontraída a riqueza cultural da Língua Portuguesa.
Vamos começar com esta questão: mussarela ou muçarela?
Neste 10 de julho foi comemorado o Dia Mundial da Pizza, possivelmente o prato mais amado do Brasil, realidade que bem pode ser atestada numericamente: segundo levantamento realizado pela Associação Pizzarias Unidas do Estado de São Paulo (Apuesp), diariamente são saboreadas um milhão de pizzas no país. Dado este ritmo de consumo estamos acostumados a ver a iguaria anunciada, tendo como principal ingrediente aquele delicioso queijo amarelo derretido.
Porém, é bom saber que a grafia oficial deste ingrediente é “muçarela”, pois essa é a única forma registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado pela Academia Brasileira de Letras. Escreve-se como dois “ss” no dia a dia e no país inteiro, certamente em alusão ao termo que vem do italiano: “mozzarella”. Alguns dicionários já se renderam e apresentam a palavra “mussarela” como existente, mas não o VOLP. Então, oficialmente ela ainda não existe.
E qual a explicação para isso?
O nosso sistema ortográfico estabelece que nas palavras estrangeiras aportuguesadas, o fonema /ce/, diante das vogais “a”, “o” e “u”, deve ser grafado com cê-cedilha. Em razão disso, é que escrevemos: açaí, miçanga, praça. Sendo assim devemos escrever, gostem ou não, “muçarela” para obedecer a norma culta da língua portuguesa.
Da mesma forma usamos cê-cedilha nas palavras “palhaço”, “paçoca”, “terraço”, “Iguaçu”, “caçula” e “açúcar”.
Mas fiquem tranquilos, caros leitores, porque a palavra “mussarela” já foi incorporada por vários dicionários, o que a torna aceitável dentro do idioma com exceção das redações oficiais de concursos ou do Enem, onde ela ainda precisará ser registrada com cê-cedilha. Pelo menos por enquanto.
(*) Jornalista profissional e professor de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Rondônia (Unir)
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