Publicada em 02/09/2023 às 10h20
Dias depois de se tornar o primeiro país a conseguir pousar no polo sul da Lua, a Índia realizou mais um avanço significativo em sua exploração espacial ao lançar seu primeiro observatório espacial destinado a estudar o Sol.
Batizada de "Aditya-L1", que se traduz para "sol" em sânscrito, a língua sagrada do hinduísmo, a missão decolou com sucesso na madrugada do próximo sábado (02), a partir de Sriharikota, principal base espacial do país.
O lançamento do Aditya-L1 representa um marco significativo para a Organização de Pesquisa Espacial da Índia (ISRO) pois, a missão promete revelar novos achados sobre o comportamento dos ventos solares, correntes potentes de partículas provenientes do Sol que podem causar perturbações na Terra e dar origem às auroras boreais.
"Isso oferecerá uma maior vantagem para observar a atividade solar e seus efeitos sobre a meteorologia espacial em tempo real", informou a ISRO.
A Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA) já puseram em órbita observatórios espaciais do tipo para estudar o Sol, mas esta será a primeira vez da Índia.
Operando a uma distância de aproximadamente 1,5 milhão de quilômetros da Terra, no chamado Ponto de Lagrange L1 (um ponto orbital estável onde as forças gravitacionais da Terra e da Lua interagem), o Aditya-L1 oferecerá visões contínuas e ininterruptas do Sol.
Esse ponto de vista único proporcionará observações claras e constantes da atividade solar, auxiliando também os cientistas indianos na compreensão do impacto da atividade do astro nas condições climáticas espaciais em tempo real.
Impulsionado ao espaço por meio do Veículo Lançador de Satélites Polar (PSLV) da Índia, o Aditya-L1 está projetado para realizar uma jornada de quatro meses desde o lançamento até o ponto de Lagrange.
Durante sua trajetória, ele transporta um conjunto de sete instrumentos avançados projetados para observar várias camadas do Sol, incluindo a fotosfera, a cromosfera e a coroa.
São esses instrumentos, equipados com detectores de campo eletromagnético e sensores de partículas, entre outras ferramentas, que viabilizarão investigações abrangentes sobre os fenômenos solares e a meteorologia espacial.
Mas por que a Índia também quer estudar o Sol do espaço?
O Sol emite uma ampla gama de radiação, partículas energéticas e campos magnéticos. No entanto, a atmosfera e o campo magnético da Terra nos protegem de grande parte dessa radiação, tornando-a inacessível para instrumentos terrestres.
Para compreender as complexidades do Sol, incluindo o comportamento do vento solar e o movimento das partículas e campos magnéticos solares através do espaço interplanetário, observações precisam ser conduzidas além da atmosfera terrestre, daí a necessidade de missões espaciais como a Aditya-L1.
Além disso, determinadas regiões do Sol, como suas áreas polares, permanecem pouco estudadas devido a desafios tecnológicos. Essas dinâmicas polares e campos magnéticos desempenham um papel crucial na compreensão dos ciclos solares e processos associados. A ambiciosa missão da Índia pretende então preencher essas lacunas sobre a física solar.
E a Índia vem construindo de maneira constante uma reputação por realizar missões espaciais bem-sucedidas a custos notavelmente econômicos. Suas missões à Lua, incluindo a Chandrayaan-3, foram realizações notáveis, demonstrando o compromisso do país em avançar na exploração espacial com soluções inovadoras.
A Chandrayaan-3, por exemplo, teve um orçamento modesto de aproximadamente 6,15 bilhões de rúpias (cerca de R$ 368 milhões), em contraste com os valores astronômicos associados a algumas missões internacionais.
Já essa nova missão, de acordo com informações da Reuters, foi financiada com um investimento de US$ 46 milhões em 2019. No entanto, a ISRO ainda não divulgou uma atualização oficial referente aos custos totais.
E os projetos inovadores do país não param por aí. Em 2014, a Índia tornou-se a primeira nação asiática a colocar um satélite em volta de Marte, e no próximo ano planeja enviar uma missão tripulada de três dias ao redor da Terra.