Publicada em 16/09/2023 às 09h32
A carta é mencionada por Giovanni Coco, arquivista dos Arquivos Apostólicos do Vaticano, em entrevista ao suplemento "La Lettura", que acompanhará a edição de domingo do jornal italiano Il Corriere della Sera.
Datada de 14 de dezembro de 1942, a carta foi escrita por um jesuíta alemão antinazista, Lothar Koenig, e enviada ao secretário de Pio XII, Robert Leiber.
Na carta, o padre jesuíta menciona o assassinato diário de milhares de pessoas e se refere ao campo de concentração nazista de Auschwitz e ao crematório no campo de concentração de Belzec, localizado na Polônia ocupada pelos alemães.
"É um caso único", destaca Giovanni Coco, considerando que a carta tem "enorme valor" e é a "evidência de uma correspondência que teve que ser mantida e prolongada ao longo do tempo".
Essa carta adiciona mais polêmica ao controverso processo de beatificação de Pio XII, iniciado em 1967.
O silêncio de Papa Pio XII diante dos crimes nazistas tem sido objeto de acaloradas discussões entre historiadores, com alguns o acusando de não ter denunciado explicitamente os campos de concentração nazistas, enquanto outros argumentam que ele pode ter trabalhado nos bastidores para salvar vidas de muitos judeus.
O acesso aos documentos relativos ao pontificado de Pio XII, que durou de 1939 a 1958, foi aberto em 2 de março de 2020, permitindo que os pesquisadores obtenham esclarecimentos sobre o comportamento da Santa Sé, que nunca condenou explicitamente o regime nazista e a perseguição ao povo judeu.