Publicada em 18/09/2023 às 09h30
É muito comum vermos e ouvirmos na fala de políticos a preferência pelo uso do plural. “Nossa preocupação é com as classes menos favorecidas”; “Vamos fazer uma revolução na economia deste país; “Precisamos do apoio de todos para uma vitória nas urnas”. Isso acontece porque o plural sempre encerra uma ideia mais coletiva e social, parecendo conferir mais importância e ênfase ao discurso.
Isto também acontece com algumas palavras no dia a dia. Foi o que ocorreu, por exemplo, com “pêsames” e “parabéns”. Elas existem no singular (“pêsame” e “parabém”), mas só as empregamos no plural. Já haviam reparado nisso?
Outras palavras seguem no mesmo caminho e cada vez mais as encontramos no plural. É o caso de “saudades”, “felicidades”, “lembranças” e “condolências”, embora tenham o seu singular registrado no dicionário.
Alguns tradicionalistas da língua têm restrições à esta flexão de número, baseando-se em um único argumento: “saudades”, “felicidades”, “lembranças” e “condolências” exprimem uma noção abstrata e, como tal, não seriam numeráveis. Sendo assim, só poderiam ser usadas no singular.
Esta “regra”, se pensarmos bem, é inaplicável porque se assim fosse não poderíamos dizer: “as liberdades civis”; “os amores da juventude”; ou ainda “as alegrias de um tempo que não voltam mais”. Não é difícil perceber que “saudades” podem sim ser enumeradas: “de você”, “das crianças”, “dos nossos passeios dominicais”, “da infância”, “da comida da vovó” etc.
Há outras palavras que não carregam noções abstratas, mas que também só são faladas no plural. São elas: núpcias, varizes algemas, cócegas, hemorroidas, nádegas, palmas (aplausos), trevas, vísceras, afazeres e arredores. Todas aqui, sem exceção, têm sua variação no singular.
E existem ainda, caros leitores, palavras que mudam de significado se usadas no singular ou no plural. É o caso de “férias” (período de descanso) e “féria” (lucro, dinheiro); “bem” (virtude) e “bens” (propriedade); “copa” (ramagem) e “copas” (naipe de baralho); “vencimento” (fim de um contrato) e “vencimentos” (salários).
Até a próxima coluna, caros amigos!
(*) Marcos Lock é jornalista profissional e professor de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Rondônia (Unir)
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