Publicada em 01/11/2023 às 08h51
O último fim de semana na Argentina foi marcado pela dificuldade dos “hermanos” para encontrar combustível. A situação se agravou e a escassez de gasolina e diesel, que provocou longas filas em postos, virou alvo da disputa eleitoral entre os candidatos à presidência do país Sergio Massa e Javier Milei.
Enquanto o atual ministro da Economia e candidato da situação culpa as petroleiras pela crise e ameaça limitar as exportações, o candidato da extrema-direita compara a atual crise na Argentina com a Venezuela.
Os motivos para a falta de combustíveis são muitos, entre eles a escassez de dólares no país. Ela tem feito com que navios-tanque de empresas fiquem parados nos portos argentinos à espera do pagamento pelo produto, bem como, a incerteza com os preços pós eleições que provocou uma corrida antecipada aos postos e o aumento de preços dos combustíveis promovidos nas últimas semanas.
Mas a principal razão é o baixo preço argentino, que torna mais interessante aos produtores exportarem o produto do que vendê-lo internamente.
Na última segunda-feira (30/10), vários postos de gasolina amanheceram com filas de quem buscava combustível. Os que não tinham filas era porque estavam fechados, já sem estoque. A escassez, que começou nas províncias do norte que fazem fronteira com Bolívia e Chile, se espalhou pelo país e já atinge fortemente a cidade de Buenos Aires. Nas redes sociais e em entrevistas televisivas, argentinos contavam que chegavam a passar horas em uma fila.
Disputa eleitoral
Antes do período eleitoral, Sergio Massa celebrou um acordo de teto de preços com a petroleira estatal YPF, o que impactou também o preço das produtoras estrangeiras. A média do preço do litro da gasolina na Argentina tem girado em torno de 86 centavos de dólar, quando já deveria ter ultrapassado o 1 dólar. Já em outros países os preços costumam ser de US$ 0,93 no Paraguai, US$ 1,14 no Brasil, US$ 1,36 no México, US$ 1,47 no Chile e US$ 1,95 no Uruguai.
Por isso, o ministro e candidato deu um ultimato as petroleiras e atribiu a elas uma especulação de preços e culpa pela crise. “Se o abastecimento não for resolvido até terça-feira, meia noite, a partir de quarta-feira não poderão enviar um único navio de exportação”, disse. “O petróleo vai primeiro para os argentinos”.
Logo após as eleições primárias, o governo argentino promoveu uma desvalorização de 20% no peso, o que provocou uma escassez de produtos básicos nas prateleiras. Desta vez, temendo um movimento semelhante, os argentinos teriam corrido aos postos, argumenta o ministro.
Já as petroleiras, reagiram apontando os dedos ao governo e o teto de preços, bem como à falta de dólares. Além da falta de gasolina, o diesel também está sendo impactado, e este é um produto que a Argentina precisa importar. Porém, segundo as produtoras, sem os dólares, a YPF – que é responsável pelo refino de 60% do combustível argentino – não consegue pagar seus fornecedores e vê os barcos com seus produtos estacionados no porto esperando pagamento.
Milei “aproveita” problema com gasolina
O ultraliberal Javier Milei também tem explorado o assunto. Por meio de vídeos compartilhados nas redes sociais, ele mostrou que foi abastecer seu carro, mas se deparou com uma enorme fila, e passou a questionar o governo pela falta de combustíveis. “O modelo de castas termina sempre da mesma forma: com escassez ou aumento de preços”, disse depois de tirar selfies com motoristas e trabalhadores do posto.
Desde então, ele tem dedicado seu perfil no X, antigo Twitter, a falar sobre o problema e comparar com a situação da Venezuela. Ele acusou o ministro de provocar a escassez de propósito para “optar por meios violentos” para resolver a situação. “Primeiro controlar os preços… Depois aparece a escassez”, escreveu. “Diante do ridículo, ele decide optar por meios violentos para forçar a oferta”.
“A falta de gasolina é um cartão postal do futuro que Massa como presidente vai nos trazer”, afirmou o libertário em uma entrevista ao canal LN+. “O que acontece com Massa é o mesmo que acontece com Maduro na Venezuela […]. A Venezuela ficou sem petróleo, Cuba sem açúcar. Temos todo o potencial energético e podemos perdê-lo.”
Em uma estratégia semelhante ao que fez antes do primeiro turno, quando comparou os preços dos transportes caso retirassem os subsídios como propunham Milei e Patricia Bullrich, Massa falou dos preços em seu governo e em um possível governo Milei.
Antes do primeiro turno das eleições presidenciais, que aconteceu no dia 22 de outubro, alguns postos de gasolina suspenderam as vendas, temendo uma forte desvalorização cambial. O segundo turno do pleito vai ocorrer em 19 de novembro.