Publicada em 11/11/2023 às 10h08
Porto Velho, RO – Coronel Chrisóstomo, do PL de Rondônia, é o tipo de político que ama liberdade de expressão para si, mas detesta quando o assunto são os outros em relação a ele.
No dia 29 de junho, usou seu advogado a fim de intimidar a redação do Rondônia Dinâmica com uma notificação extrajudicial: não colou.
O parlamentar se incomoda com o fato de ser criticado em decorrência de seu comportamento infantojuvenil.
Enquanto os outros 512 deputados federais passariam facilmente pelo decibelímetro utilizado por policiais ambientais para medir a altura legal do som em residências e estabelecimentos comerciais, o militar, lado outro, certamente seria enquadrado por não conseguir se manifestar sem berrar à beira do histrionismo.
Ironias à parte, é sintomática a opção de tentar vencer tudo no grito. Freud explica. Mas quem se aprofunda sucintamente a respeito é a psicanalista Laís Locatelli, que versa: “Gritar é impor o seu som a uma pessoa que, possivelmente, não quer te escutar [...]”. Em suma, gritar em frente a um microfone, ferramenta criada com a finalidade de amplificar o som, reeditando Laís Locatelli, é a maneira que o coronel encontrou para tentar impor sua voz a um coletivo que certamente não deseja ouvi-lo.
Todos, da extrema direita, passando pelo Centro e desembocando no eixo mais à esquerda do tabuleiro político-ideológico conseguem exercer seus mandatos – na grande maioria do tempo, com exceções, óbvio –, dentro dos critérios estabelecidos pelo que a sociedade conhece como urbanidade.
Chrisóstomo, por sua vez, faz da exceção a regra, testando, diuturnamente, os limites da imunidade parlamentar material. O ofício, é verdade, lhe confere um poder fora de série, que propicia a um ser humano comum, dentro do Estado Democrático de Direito, ofender, mentir e atacar sem sofrer consequências.
Como ocorreu na última terça-feira, dia 07, quando o membro da bancada federal rondoniense usou a Tribuna da Câmara dos Deputados para dizer que a ministra da Saúde Nísia Trindade Lima estaria obrigando pais e mães a envenenarem bebês e crianças.
Antes disso, ameaçou o ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino, reafirmando seu desejo de que o titular da pasta levasse “cacete” e “porrada”; e, ainda, alegou que o presidente Lula, do PT, anda “mijado”.
Ameaça de Chrisóstomo ganhou o noticiário nacional / Reprodução-Captura de Tela
São muitas peripécias deflagradas que não encontram ressonância junto à realidade. É lamentável, na visão deste jornal eletrônico, que, repise-se, não se dobra a intimidações e/ou ameaças de quaisquer tipos, que, constitucionalmente, um representante escolhido pelo povo possa andar tão fora dos ditames gerais da lei destinada à sociedade ordinária. Sua postura eviscera a prestação de um desserviço rotineiro à ordem democrática, e, especialmente, à verdade.
Enfim, Chrisóstomo testou todos os limites da imunidade parlamentar, e, como se vê, foi aprovado com louvor na prova.
A denúncia por quebra de decoro parlamentar apresentada pelo advogado Caetano Neto contra o militar certamente não prosperará. Será mais um documento engavetado, sem efeito, e, de maneira subsequente, fomentará ainda mais a sensação de impunidade, de “posso-tudo”, conservada pelo parlamentar nascido em Tefé, no Amazonas.
E ele pode tudo. Tudo! Exceto silenciar este humilde e resiliente veículo de comunicação.