Publicada em 22/11/2023 às 15h26
Numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) para abordar os "desenvolvimentos profundamente preocupantes no Território Palestiniano Ocupado e o grave impacto nas mulheres e crianças", a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Catherine Russell, afirmou que as crianças representam 40% das mortes na Faixa de Gaza.
"Mais de 5.300 crianças palestinianas terão sido mortas em apenas 46 dias... ou mais de 115 por dia, todos os dias, durante semanas e semanas. Com base nestes números, as crianças são responsáveis por 40% das mortes em Gaza. Isto é sem precedentes. Por outras palavras, a Faixa de Gaza é o lugar mais perigoso do mundo para ser criança", disse.
"É digno de nota que o número de mortes na atual crise ultrapassou em muito o total de mortes durante escaladas anteriores. E, para efeitos de comparação, um total de 1.653 crianças foram mortas em 17 anos de monitorização e denúncia de violações graves entre 2005 e 2022", apontou Russell.
Além disso, um milhão de crianças -- ou seja, todas as crianças dentro do território -- sofrem agora de insegurança alimentar, enfrentando uma possível "crise nutricional catastrófica", acrescentou a diretora executiva da UNICEF, salientando que crescem os casos de diarreia e infeções respiratórias em menores de cinco anos.
Em Gaza, os efeitos da violência contra crianças "foram catastróficos, indiscriminados e desproporcionais" e, quando a guerra terminar, a contaminação por resíduos explosivos "será sem precedentes, com potencialmente dezenas de milhares de resíduos espalhados por Gaza e mais além", numa ameaça "letal para as crianças que poderá durar décadas", alertou.
Também o impacto desproporcional desta guerra nas mulheres foi observado na reunião, com a diretora executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, a afirmar que duas mães são mortas a cada hora em Gaza e sete mulheres a cada duas horas.
Além disso, Bahous sublinhou que 180 mulheres dão à luz todos os dias sem água ou analgésicos, sem anestesia para cesarianas ou eletricidade para incubadoras e tratamentos médicos.
"As mulheres em Gaza disseram-nos que rezam pela paz, mas que se a paz não chegar, rezam por uma morte rápida, enquanto dormem, com os filhos nos braços. Deveria envergonhar-nos a todos que qualquer mãe, em qualquer lugar, fizesse tal oração", disse Sima Bahous
No meio dos combates e da devastação em curso em Gaza, há atualmente 5.500 mulheres grávidas que deverão dar à luz no próximo mês.
"Num momento em que uma nova vida começa, o que deveria ser um momento de alegria é ofuscado pela morte e pela destruição, pelo horror e pelo medo. A situação é mais grave para as mulheres que enfrentam complicações obstétricas -- cerca de 15% das mulheres grávidas", assinalou, por vez, Natalia Kanem, líder do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
Natalia Kanem disse ainda estar "profundamente preocupada" com as mais de 7.000 mulheres que deram à luz nos últimos 47 dias, uma vez que não têm acesso a cuidados pós-parto, água, saneamento e nutrição.
Na reunião de hoje, a maioria dos membros do Conselho de Segurança saudou o alcance de um acordo entre Israel e o Hamas sobre uma pausa temporária nos combates e a libertação de alguns reféns, ao mesmo tempo que apelaram à libertação de todos aqueles que estão em cativeiro.