Publicada em 09/11/2023 às 09h02
Superlotação de hospitais, falhas no sistema de distribuição de água potável, saneamento interrompido. A vida na Faixa de Gaza já não era fácil antes da guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas. Agora, a situação piorou a tal ponto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou um novo risco: a rápida propagação de doenças infecciosas.
Por conta da falta de combustível, diversos setores foram afetados, entre eles o da a saúde. Isso ocorre porque a interrupção do funcionamento das fábricas de dessalinização e a perturbação do recolhimento de resíduos são dois dos pilares fundamentais na proteção da população contra as contaminações.
Por isso, 1,5 milhão de pessoas estão mais expostas ao risco de contraírem infecções: é o caso principalmente da diarreia, que ocorre por consumo de água contaminada, ou doenças transmitidas por insetos e roedores.
Devido à situação, a OMS solicita a aceleração e o acesso da ajuda humanitária dentro da Faixa de Gaza, assim como a libertação de todos os reféns detidos, bem como o cessar-fogo.
“Todas as partes no conflito devem cumprir as suas obrigações ao abrigo do direito humanitário internacional de proteger os civis e as infraestruturas civis, incluindo os cuidados de saúde. A OMS apela pela libertação incondicional de todos os reféns e por um cessar-fogo humanitário para evitar mais mortes e sofrimento”, escreve a instituição.
Até falta de internet em Gaza prejudica a saúde
Em suma, os danos nos sistemas de água e saneamento tornam impossível a presença, o controle e a manutenção de medidas básicas de prevenção de infecções, de acordo com a OMS. Há ainda um risco “substancial” a infecções que se desenvolvem a partir de traumas, cirurgias, parto e feridas, principalmente pela falta de insumos.
Pessoas imunossuprimidas, como é o caso de pacientes oncológicos, correm um risco ainda maior, e, agora, a falta de equipamento individual faz com que profissionais de saúde também estejam expostos a transmitir doenças enquanto executam seu trabalho.
Outro fator de peso na situação em que a Faixa de Gaza se encontra é a falta de conectividade à internet e o funcionamento do sistema telefônico, já que sua restrição diminui a capacidade de detectar surtos de doença precocemente, e retarda uma resposta eficaz ao problema.
A OMS inclusive considera que as pessoas mais expostas são as que vivem em abrigos e com baixo acesso a instalações de higiene e água potável, e reforçou que a entidade, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) e o Ministério da Saúde tentam reforçar a vigilância nesses locais.
O impacto das infecções na saúde pública de Gaza
Desde o início dos conflitos entre Israel e o grupo Hamas, em 7 de outubro, foram notificados mais de 33.551 casos de diarreia na região. A maior parte impacta crianças com menos de cinco anos. Antes, entre 2021 e 2022, o número médio era de 2 mil casos mensais.
Também foram registrados casos de sarna e piolhos, varicela, erupção cutânea e infecções respiratórias superiores. Antes dos conflitos, as doenças respiratórias ocupavam o sexto lugar em causas de morte na Faixa de Gaza, com quase 82 mil casos e mais de 400 mortes por Covid-19 notificados em 2022.
A situação é especialmente preocupante para as mais de 50 mil mulheres grávidas, e as 337 mil crianças abaixo dos cinco anos.
Veja os problemas de saúde mais registrados em outubro
Diarreia: 33.551 casos;
Sarna e piolhos: 8.944 casos;
Varicela: 1.005 casos;
Erupção cutânea: 12.635; e
Infecções respiratórias superiores: 54.866.
Dos 1,5 milhão de pessoas deslocadas, quase 725 mil estão em 149 instalações da UNRWA, 122 mil em hospitais, igrejas e outros edifícios públicos, e cerca de 131.134 em 94 escolas não pertencentes à UNRWA, e o restante, em famílias de acolhimento.