Publicada em 29/11/2023 às 15h56
Numa reunião de nível ministerial do Conselho de Segurança da ONU para abordar a situação em Gaza, Guterres frisou que os civis em Gaza necessitam de um fluxo contínuo de ajuda humanitária e de combustível para vidas sejam salvas vidas.
"O povo de Gaza está no meio de uma catástrofe humanitária épica diante dos olhos do mundo. Não devemos desviar o olhar", disse Guterres, perante o corpo diplomático presente no Conselho.
"É necessário muito, muito mais para começar a responder às necessidades humanas em Gaza", defendeu.
Nos últimos dias, segundo o ex-primeiro-ministro português, o povo do Território Palestiniano Ocupado e de Israel finalmente viu um "vislumbre de esperança e de humanidade no meio de tanta escuridão", numa referência direta às tréguas em vigor, acrescentando que foi "profundamente comovente ver os civis finalmente a terem uma trégua dos bombardeamentos, as famílias reunidas e o aumento da ajuda vital".
Contudo, o secretário-geral indicou que há ainda muito por fazer, num momento em que os serviços de água e eletricidade não foram totalmente restabelecidos; os sistemas alimentares entraram em colapso e a fome está a alastrar-se, especialmente no norte do enclave; e as condições sanitárias nos abrigos são "terríveis", representando uma séria ameaça à saúde pública.
"Existem também numerosos relatos de violência sexual durante os ataques que devem ser vigorosamente investigados e processados", denunciou.
Guterres reconheceu ainda que a passagem fronteiriça de Rafah não tem capacidade suficiente para fazer entrar a ajuda que Gaza necessita, especialmente tendo em conta "o ritmo lento dos procedimentos de segurança".
Nesse sentido, reforçou os apelos à abertura de outras passagens, incluindo a de Kerem Shalom, e à simplificação dos mecanismos de inspeção para permitir o necessário aumento da ajuda.
Na reunião de hoje, Guterres abordou ainda a resolução aprovada este mês pelo Conselho de Segurança que apela a pausas e corredores humanitários urgentes e alargados em Gaza, observando que a mesma foi aprovada num contexto de "morte generalizada e destruição em massa".
Analisando a resolução ponto por ponto, Guterres indicou que entregará ao Conselho de Segurança um conjunto de opções para monitorizar eficazmente a implementação da resolução.
"Já estabeleci um grupo de trabalho composto pelo Departamento de Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz, pelo Departamento de Operações de Paz, pelo Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários e pelo Gabinete de Assuntos Jurídicos para preparar urgentemente propostas a este respeito. Até agora, é claro que a implementação tem sido apenas parcial, na melhor das hipóteses, e é lamentavelmente insuficiente", frisou.
Guterres salientou que o sucesso da implementação não será medido pelo número de camiões que entra em Gaza, mas "pelas vidas salvas, pelo fim do sofrimento e pela restauração da esperança e da dignidade".
O líder da ONU observou ainda que estão a decorrer negociações intensas para prolongar as tréguas em Gaza, movimento que "saudou vivamente", mas reiterou os apelos por um "verdadeiro cessar-fogo humanitário".