Publicada em 06/11/2023 às 15h41
Em declarações à imprensa na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Guterres disse que Gaza está a tornar-se "num cemitério de crianças" e afirmou-se "profundamente preocupado" com as "claras violações do direito humanitário internacional" no terreno.
"A intensificação do conflito está a abalar o mundo, a região e, o que é mais trágico, a destruir tantas vidas inocentes. As operações terrestres das Forças de Defesa de Israel e os bombardeamentos contínuos estão a atingir civis, hospitais, campos de refugiados, mesquitas, igrejas e instalações da ONU - incluindo abrigos. Ninguém está seguro", disse.
Além do número recorde de jornalistas mortos em quatro semanas, o secretário-geral disse ainda que foram mortos mais trabalhadores humanitários das Nações Unidas do que em qualquer período comparável na história da organização.
Só na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), 89 trabalhadores foram mortos em Gaza desde o início da ofensiva israelita no enclave.
"Deixem-me ser claro: nenhuma parte num conflito armado está acima do direito humanitário internacional", reforçou, reiterando a sua "total condenação dos abomináveis atos de terror perpetrados pelo Hamas" em 07 de outubro e repetindo os apelos pela libertação imediata, incondicional e segura dos reféns detidos em Gaza.
Guterres apontou ainda que o grupo islamita Hamas e outros militantes continuam a utilizar civis como escudos humanos e a lançar foguetes indiscriminadamente contra Israel.
"Nada pode justificar a tortura, morte, ferimentos e rapto deliberados de civis. A proteção dos civis deve ser primordial", frisou.
O ex-primeiro-ministro português salientou que a catástrofe que se desenrola torna a necessidade de um cessar-fogo humanitário "mais urgente a cada hora que passa".
De acordo o líder da ONU, quer as partes em conflito, quer a comunidade internacional, têm a responsabilidade imediata e fundamental de pôr fim a este "sofrimento coletivo desumano" e "expandir dramaticamente a ajuda humanitária a Gaza".
"O caminho a seguir é claro: um cessar-fogo humanitário. Agora. Todas as partes respeitando todas as suas obrigações sob o direito humanitário internacional. Agora. A libertação incondicional dos reféns em Gaza. Agora. A proteção de civis, hospitais, instalações da ONU, abrigos e escolas. Agora", afirmou.
"Mais alimentos, mais água, mais medicamentos e, claro, combustível (...) agora. Acesso irrestrito para entregar suprimentos a todas as pessoas necessitadas em Gaza. Agora. E o fim do uso de civis como escudos humanos. Agora. Nenhum destes apelos deve estar condicionado aos outros. E para tudo isto, precisamos de mais financiamento -- agora", insistiu.
Paralelamente, o chefe da ONU disse estar profundamente preocupado com o aumento do antissemitismo e da intolerância anti-muçulmana ao redor do mundo, apelando a que a retórica de ódio e as ações provocativas cessem.
Também a possibilidade de o conflito se espalhar por toda a região foi abordada pelo secretário-geral, indicando que já se está a assistir a uma espiral de escalada desde o Líbano e a Síria, até ao Iraque e ao Iémen.
"Essa escalada deve parar", instou.
Guterres concluiu o seu pronunciamento defendendo uma solução de dois Estados, "com israelitas e palestinianos a viverem em paz e segurança".
Mais de 10 mil pessoas morreram na Faixa de Gaza desde que as Forças de Defesa de Israel iniciaram a sua campanha de ataques para responder aos ataques levados a cabo pelo Hamas em 07 de outubro, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlada pelo movimento islamita, que relata a morte de mais de 4.100 crianças.
As informações divulgadas pelo Hamas, organização considerada terrorista pela União Europeia (UE) e Estados Unidos, não foram confirmadas de forma independente.
As autoridades palestinianas também aumentaram para 155 o número de palestinianos mortos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, provocados por disparos das forças israelitas e ataques de colonos, desde 07 de outubro, quando o Hamas realizou ataques contra Israel que deixaram quase 1.400 mortos e mais de 240 pessoas raptadas.