Publicada em 30/11/2023 às 15h09
Vinte anos depois de Tom Hurndall ser morto pelo exército israelita na Faixa de Gaza, o seu pai volta a criticar as ações de Israel e a atitude dos governos que apoiam Telavive, acusando-os de "encorajar ativamente a morte de mulheres e crianças" no enclave palestiniano.
Anthony Hurndall, pai de um ativista britânico morto por um atirador furtivo enquanto cuidava de crianças em Rafah, no sul de Gaza, tornou-se também ele num ativista, lutando por uma maior justiça nos territórios palestinianos ocupados. Na altura, em 2003, Hurndall abandonou o seu emprego para ajudar a investigação à morte do seu filho como advogado.
Num comunicado citado pelo The Guardian, garantiu ser um defensor do estado israelita e da solução de dois estados, mas afirmou que, nos 20 anos desde a morte do seu filho, as atitudes das forças armadas israelitas (IDF, na sigla em inglês) só se tornaram mais agressivas, letais e autoritárias.
"As IDF discriminam regularmente civis e crianças como militares, ou como pessoas armadas, e fabricam relatos de eventos como pretexto para a sua matança. Estas alegações são semelhantes às que a IDF usa para justificar os bombardeamentos e outros ataques a alvos civis e hospitais em Gaza", atirou Hurndall.
Com a sua experiência de investigação de crimes pelas forças israelitas - e notando que a pressão internacional foi crucial para condenar o sniper que matou o seu filho a oito anos de prisão -, o advogado apontou, contudo, que os palestinianos não terão os mesmos recursos para investigar a morte da maioria dos civis em Gaza, pelo que a responsabilização das forças israelitas na justiça será mais difícil.
"Apenas quando confrontados com provas irrefutáveis e submetidos a uma pressão incessante do governo britânico e da imprensa, é que o exército cedeu e aceitou responsabilidade. Infelizmente, os civis palestinianos não têm os recursos ou o apoio para se protegerem dessa forma", lamentou.
Anthony Hurndall criticou ainda os governos internacionais que têm apoiado incondicionalmente Israel, em particular o Reino Unido, apontando-lhes o dedo e considerando que a sua passividade com a força de ação das forças israelitas "encoraja" a morte de milhares de civis em Gaza.
"Os governos ocidentais e os média parecem prontos a aceitar os relatos e a narrativa israelita, e ainda as reproduzem. Com isso, estão a encorajar ativamente a morte de mulheres e crianças e, na minha perspetiva, são eles próprios cúmplices na morte de civis e em crimes de guerra", sublinhou o ativista.
O cessar-fogo acordado entre o Hamas e Israel, mediado pelo Qatar, Egito e EUA, tem permitido a libertação de reféns israelitas, sequestrados pelo grupo fundamentalista durante o ataque de 7 de outubro, bem como a libertação de presos israelitas. Estes detidos, incluindo dezenas de crianças e mulheres, estavam presos desde antes da guerra, e muitos estavam sob detenção no âmbito de uma prática israelita de 'detenção administrativa' - um sistema que tem permitido às autoridades israelitas prender palestinianos sem acusação, por tempo indefinido, mesmo na Cisjordânia ocupada.
Muitos libertados têm também revelado histórias de abuso, de tortura e de pobres condições sanitárias impostas nas prisões israelitas. Alguns são jovens adultos, que foram detidos pela polícia por atirarem pedras, ficando na prisão durante anos.
O ataque do Hamas sobre Israel fez cerca de 1.200 mortos no dia 7 de outubro, sequestrando também mais de 200 pessoas. Como retaliação, o exército israelita dizimou a Faixa de Gaza ao longo de quase dois meses, matando mais de 15 mil palestinianos, incluindo milhares de crianças, e deixou a região palestiniana numa profunda crise humanitária reconhecida pela Organização das Nações Unidas.