Publicada em 30/11/2023 às 09h30
Com base no Ato Institucional Número Um, no dia 13 de junho de 1964, foi cassado, o deputado federal Renato Medeiros, eleito por Rondônia em 1962. Assim se encerra a carreira política do médico Renato Clímaco Borralho de Medeiros – cassado pela ditadura civil militar de 1964.
Hoje, dia 30, último dia de novembro, mês em que se vai às ruas em celebração ao Dia da Consciência Negra e para reivindicar igualdade para a raça humana, veio-me a consciência da necessidade urgente de resgatar o nome e o trabalho desse que foi um grande líder político em Rondônia - Renato Medeiros. Os movimentos negros do nosso Estado precisam, devem pesquisar, estudar, falar, escrever sobre a figura de Renato Medeiros, uma das figuras mais importante da história política de Rondônia, nos tempos do Território Federal. Sim, Dr. Renato Medeiros era negro. Não como o ex-presidente Nilo Peçanha, que procurava esconder (não sei como), Renato Medeiros era negro assumido.
Aqui cabe um mea culpa. Em meados da década de 80 do século passado, fundamos em Porto Velho, o Movimento de Criação Cabeça de Negro, o primeiro movimento negro de Rondônia. Acabávamos de sair da ditadura civil militar e o país era uma efervescência democrática. Nessa época pouco ou quase nada se falava por aqui de Renato Medeiros, a ditadura tinha silenciado seu nome e sua história. Eu, por exemplo, na época, sabia e já tinha ouvido falar de Renato Medeiros, mas nem imaginava que ele era negro. E o nosso movimento passou batido no quesito Renato Medeiros como líder político negro nos tempos do Território de Rondônia. Fica aqui as desculpas do Movimento de Criação Cabeça de Negro por esse lapso.
Esse trabalho de ressaltar nas lutas do movimento negro em Rondônia a figura do Dr. Renato, como expressivo líder político é fundamental para se conhecer nossa história e assim fortalecer nossa cultura. Dr. Renato Medeiros deve constar na pauta do movimento negro de Rondônia.
“Negro, médico, músico, amante do futebol e socialista. Nascido em 30 de março de 1912 na cidade de Belém do Pará. Filho do técnico de Raio X Raimundo Nonato de Medeiros e da dona de casa Ana Augusta Borralho de Medeiros, Renato Clímaco Borralho de Medeiros formou-se em medicina na Faculdade Federal do Pará” escreve o jornalista Zola Xavier no seu livro “Uma frente popular no Oeste do Brasil - do incêndio na Catedral ao Palacete Rio Madeira e outras histórias do território federal de Rondônia”.
No período do Território Federal do Guaporé, pós 1954, Rondônia, quem mandava por essas paragens ( “mandava e sabia mandar” – nas palavras do jornalista, e à época, proprietário do jornal “Alto Madeira” Euro Tourinho), era o coronel Aluízio Ferreira, que desde 1932, com o feito da chamada nacionalização da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, já vinha construindo e comandando à mão de ferro o que seria futuramente o Estado de Rondônia.
Renato Medeiros chega em Porto Velho em 1942, a convite do cunhado do coronel Aluízio Ferreira, Dr. Rubens Brito. Pelas circunstâncias que só acontecem no jogo político, Renato Medeiro tornou-se oposição ao poder centralizado do coronel Aluízio Ferreira. E assim seguiu até ser cassado em 1964 pela ditadura civil militar.
Médico, o Dr. Renato Medeiros não tinha endereço para atendimento. Assim conta os que viveram à época. Quando solicitado, atendia nas casas, muitas das vezes indo a cavalo, depois adquiriu um velho Jeep. Não tinha hora nem lugar, passou a ser o médico do povão desde Porto Velho até Guajará-Mirim. Renato Medeiros, com sua atuação humanitária, foi a maior liderança popular dos tempos do Território do Guaporé, depois, Rondônia.
Por enfrentar a oligarquia sob o comando do coronel Aluízio Ferreira, Renato Medeiro comeu o “pão que o diabo amassou”. Perseguições de todas as espécies possíveis mais nunca arrefeceu, continou sua luta libertária em prol dos mais necessitados. Renato Medeiros, era sobretudo, um humanista.
Além das perseguições de cunho político partidário, os adversários o atacavam de todas as formas, mas, a preferencial era a discriminação quanto a cor preta do Dr. Renato Medeiros. Nas passeatas dos aluizistas levavam sempre à frente um boneco preto, o “peteleco”, referindo-se de forma pejorativa ao candidato Renato Medeiros.
Conta o jornalista Zola Xavier: “Dr. Renato Medeiros, ao longo de sua trajetória política no Território de Rondônia, além das inúmeras infâmias, arbitrariedades e injustiças, sofreu com as manifestações racistas, veiculadas pelo jornal O Guaporé, porta voz do pensamento aluizista que, sistematicamente, o chamava de “Louro “.
A cidade de Porto Velho, onde morou, trabalhou e militou politicamente o Dr. Renato Medeiros, deve-lhe muito em termos de reconhecimento. Cadê a avenida (tem uma viela), uma grande escola, um prédio público, um logradouro público decente, com o nome do Dr. Renato Medeiros? Essa cobrança deve ser feita pelo movimento negro de Porto Velho, de Rondônia, permanentemente. Cadê o busto, a estátua do Dr. Renato Medeiros, Porto Velho?
Bem, acontece é que não se conhece a nossa história. Como se homenagear alguém se a história não é contada, portanto, desconhecida? Morador, caso não seja de Porto Velho, mas vive e trabalha aqui, constrói-se e constrói sua família aqui, vamos conhecer um pouco mais a história da cidade e do Estado onde vivemos? Assim vamos respeitar e cuidar mais do local em que vivemos.
Em tempo: Renato Medeiros era músico, tocava violino.
Para conhecermos sobre a história do médico político, o negro Dr. Renato Medeiros, e aquele tempo político de Rondônia em que ele viveu e atuou, leia o livro do jornalista Zola Xavier “Uma frente popular no Oeste do Brasil - do incêndio na Catedral ao Palacete Rio Madeira e outras histórias do território federal de Rondônia”. O livro pode ser adquirido pelo e.mail: [email protected]; e no whatsapp (21) 99828 3940.
Adaides Batista dos Santos – Dadá
Jornalista, poeta e compositor popular
Membro da Academia de Letras de Rondônia ( ACLER)