Publicada em 13/01/2024 às 10h09
O aumento da atuação das empresas brasileiras no comércio exterior é resultado, entre outros fatores, do saldo comercial. É o que afirma o governo brasileiro. O total de empresas exportadoras cresceu 2% em 2023, chegando a 28,5 mil. O principal destino dos produtos brasileiros foi a China.
O Brasil bateu o próprio recorde nas exportações em 2023, com US$ 339,67 bilhões, marca inédita que supera em 1,7% os números de 2022. No mesmo período, as importações registraram queda de 11,7% e fecharam em US$ 240,83 bilhões.
A combinação da importação e da exportação levou ao saldo comercial de US$ 98,8 bilhões. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços mostram que houve crescimento de 1,7% nas exportações comparado o valor de janeiro a dezembro de 2023 (US$ 339,67 bilhões) com o mesmo período de 2022 (US$ 334,14 bilhões). Em relação às importações, houve queda de 11,7% entre o valor de janeiro a dezembro de 2023 (US$ 240,83 bilhões) com o mesmo período de 2022 (US$ 272,61 bilhões). Dessa forma, o valor da corrente de comércio totalizou US$ 580,51 bilhões. Corrente de comércio é a soma as exportações e importações em certo período. O resultado permite aferir a quantidade de recursos movimentados em transações comerciais no país.
Economista-chefe da Warren Investimentos e especialista em gestão pública, Felipe Salto avalia que o saldo comercial colabora para o crescimento econômico brasileiro. "Esse processo deve continuar em 2024. Por outro lado, precisamos avançar mais nos acordos comerciais, de modo a ampliar a corrente de comércio, isto é, a soma dos fluxos exportados e importados", pondera.
Esse movimento, segundo Salto, precisa ampliar a integração brasileira com o resto do mundo, com foco em cadeias onde se possa turbinar a indústria de transformação nacional, que gera empregos de boa qualidade e com altos salários. "Para tanto, será importante a continuidade do processo de redução dos juros, mas também a consolidação fiscal e a preservação de compromissos mínimos nessa matéria", completa.
No último ano, o principal destino dos produtos brasileiros foi a China. As exportações alcançaram US$ 105,75 bilhões, um aumento de 16,5% sobre 2022. É a primeira vez na história do comércio exterior brasileiro que as exportações para um único parceiro comercial ultrapassaram US$ 100 bilhões.
Por outro lado, houve queda nas exportações para dois parceiros de grande porte – Estados Unidos com diminuição de 1,5%, e União Europeia, com decréscimo de 9,1%. O crescimento das exportações foi puxado principalmente pela agropecuária (9%) e pela indústria extrativa (3,5%), enquanto as vendas totais da indústria de transformação tiveram queda de 2,3%.
Nos três setores, os produtos que mais se destacaram foram animais vivos, milho, soja, minérios, açúcares, alimentos para animais e instalações e equipamentos de engenharia civil.
O continente asiático, maior comprador dos produtos brasileiros em 2023. Para países da Ásia, o Brasil exportou principalmente soja, milho, açúcar, minério de ferro e óleos brutos de petróleo. Quanto às importações, houve queda nos três setores, sendo 21% na agropecuária, 27% na indústria extrativa e 10%, de transformação. Os principais recuos foram compras de trigo e centeio, milho, látex, batata, carvão, petróleo, gás natural, combustíveis e adubos e fertilizantes, segundo os dados compilados pelo ministério.
O economista Ricardo Braga destaca a importância da China nesse contexto de superávit como "um vigor importador". Ele reconhece a relação dos números a partir das iniciativas de aproximação do governo entre China e Brasil, mas acredita que, "dados os prazos para que o comércio internacional vá da decisão de fazer algo até finalizar as transações e impactar na balança comercial, [essa aproximação] não deve ter sido tão decisiva já em 2023".
O coordenador do Núcleo de Estudos dos Países BRICS da Universidade Federal Fluminense, Evandro Carvalho, destaca a importância da China como parceiro comercial brasileiro, mas alerta: "O Brasil precisa ter um plano de longo prazo para não depender demasiadamente da exportação de soja, óleo, frango, entre outros, para a China, que está procurando, também, diversificar seus fornecedores. Este é um tema fundamental."
Carvalho chama atenção para a importância de se exportar mais do que importar, no sentido de que o país aumente as reservas em dólar, gerando um saldo positivo que pode servir para compor políticas governamentais. Por outro lado, ocorre a possibilidade de que seja necessária uma importação maior para atender de forma momentânea um determinado setor. "O debate que se deve seguir daí é o que este bom desempenho tem significado para a reindustrialização do país e qual o impacto no mercado interno. Assim, por exemplo, um mercado de exportação aquecido não pode se dar às custas do preço ao consumidor brasileiro do mesmo produto", destaca.
Apesar de reconhecer como um bom sinal o superávit com exportações, o pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas e sócio da BRCG Consultoria Lívio Ribeiro afirma que a surpresa dos números se deve a uma redução muito mais forte e antecipada das importações, o que não é, necessariamente, uma notícia positiva.
"Chama atenção que toda a parcela ligada ao ciclo de investimentos na economia brasileira – bens intermediários, de capital e de consumo durável – reduziu bastante no decorrer de 2023. Esse é um sinal um pouco ruim, porque a economia importou menos porque investiu muito menos. A médio prazo, sem investimento, não se tem como manter taxas de crescimento robustas e sustentáveis."