Publicada em 08/01/2024 às 09h23
Esta segunda-feira (8/1) pode marcar o primeiro pouso de uma espaçonave privada na Lua. O feito será tentado pelo novo foguete da ULA (United Launch Alliance), o Vulcan, resultado da parceria entre Boeing e Lockheed Martin, que disputa esse mercado com a SpaceX, de Elon Musk.
O lançamento do Vulcan, substituto dos Atlas 5 e Delta 4, ocorreu às 4h18 (Horário de Brasília) no Cabo Canaveral, na Flórida, estado ao sul dos Estados Unidos.
Equipado com seis propulsores de combustível sólido, o Vulcan destaca-se pelos motores do primeiro estágio, modelo BE-4, movidos a metano e oxigênio líquidos, desenvolvidos pela Blue Origin, de Jeff Bezos.
O uso do BE-4 substitui os motores RD-180 russos. Com contratos já garantidos para cerca de 70 lançamentos nos próximos anos, o Vulcan entra em uma competição direta com o Falcon 9 da SpaceX.
Peregrino e plano de mercado lunar
Estar a bordo de um foguete em seu voo inaugural parece uma ideia precipitada e arriscada. Ainda sim, “perigo” é a palavra-chave das missões lunares privadas que estão por vir, a começar pela PM1 (Peregrine Mission 1).
O módulo de pouso desenvolvido pela Peregrine, da Astrobotic, foi um dos primeiros a fechar contrato com a Nasa. Das 21 cargas úteis, apenas 6 são da agência espacial americana.
O plano da agência espacial civil dos EUA é fomentar um mercado lunar, com empresas prestando serviços de transporte para diversos clientes, sendo um deles a Nasa.
Entre os dispositivos da agência estão sensores que detectam a presença de água, dióxido de carbono e metano no solo, bem como caracteriza a dinâmica desses compostos voláteis durante um dia lunar.
Um sensor de radiação também estará a bordo, assim como um conjunto retrorrefletor de laser, usado para medir a distância de espaçonaves (ou mesmo da Terra) até a superfície da Lua.
A Agência Espacial Mexicana, um dos vários países que estão embarcados, conduz o projeto Colmena, que contém cinco mini robôs, de 60 gramas, que vão explorar o solo lunar
Caso o projeto obtenha sucesso, o México se tornará o primeiro país da América Latina a ter um equipamento científico em solo lunar.
Cargas úteis do Peregrine
Empresas de Seychelles, na África Ocidental, e dos Estados Unidos estão impulsionando iniciativas relacionadas à criptomoeda Bitcoin. A Astroscale, do Japão, por sua vez, planeja enviar uma cápsula contendo mensagens de 80 mil crianças do mundo todo.
A Universidade Carnegie Mellon, dos EUA, contribui para a missão lunar com o pequeno veículo Iris Lunar Rover. Além disso, duas empresas americanas oferecem serviços funerários lunares, enviando porções de cinzas de clientes como uma celebração de suas vidas. A Elysium Space deixará as amostras na Lua junto ao módulo de pouso Peregrine.
A Celestis, pioneira em missões do tipo, lançou as primeiras cinzas humanas ao espaço em 1997 num foguete Pegasus.
Agora, ela planeja duas missões: uma no pequeno Peregrine, com destino à Lua, e outra no segundo estágio do Vulcan, que permanecerá em espaço profundo em órbita ao redor do Sol.
Diversos projetos artísticos, como a MoonArk da Universidade Carnegie Mellon e a galeria de arte digital da Lunar Mission One, ambas americanas, estão a bordo. Repositórios de dados projetados para sobreviver por longos períodos na Lua também compõem as cargas úteis da missão PM1.
Sucesso?
Após o lançamento ao espaço, resta a incerteza sobre a capacidade da PM1 de realizar uma alunissagem suave. As tentativas anteriores, realizadas pelo grupo israelense SpaceIL, em 2019, e pela empresa japonesa ispace, em 2023, foram mal sucedidas.
Se tudo correr conforme o planejado, o Peregrine da Astrobotic poderá se tornar a primeira missão particular bem-sucedida à superfície lunar em 23 de fevereiro. Contudo, há uma possível concorrência com o lançamento da Intuitive Machines, de Houston, programado para meados de fevereiro, com uma trajetória mais direta.
Em ambos os casos, a NASA contribui com cargas úteis, ciente da ausência de garantias de sucesso. A aposta reside na persistência e aprendizado de cada missão, visando inaugurar uma era de exploração comercial intensiva da Lua, conduzindo ciência e pesquisa espacial.
Confira todas cargas embarcadas no módulo de pouso da Astrobotic:
- NIRVSS (Nasa, Centro Ames de Pesquisa)
Espectrômetro para medir hidrogênio, dióxido de carbono e metano no solo, além de mapear a temperatura - NSS (Nasa, Centro Ames de Pesquisa)
Espectrômetro que buscará evidências de gelo de água na superfície e estudará a composição do solo - PITMS (Nasa, Centro Goddard de Voo Espacial, e ESA)
Estudará a exosfera (a tênue atmosfera) lunar, investigando movimento de compostos voláteis durante o dia - LETS (Nasa, Centro Espacial Johnson)
Sensor de radiação para medir as condições na superfície lunar, com vistas a futuras missões tripuladas - LRA (Nasa, Centro Goddard de Voo Espacial)
Coleção de retrorrefletores de laser para permitir a medição precisa da distância até a superfície da Lua por espaçonaves - NDL (Nasa, Centro Langley de Pesquisa)
Sistema de laser para medir a velocidade e posição exatas do módulo Peregrine durante a aproximação para pouso na Lua - Colmena (Agência Espacial Mexicana)
Conjunto de cinco mini robôs de 60 gramas para estudar o solo lunar; primeiro equipamento latino-americano na Lua - Lunar Bitcoin (BitMEX, Seychelles)
Uma moeda física destinada à Lua, carregada com um Bitcoin - Bitcoin Magazine Genesis Plate (BTC Inc., EUA)
Placa que inclui o primeiro bloco de bitcoin a ser minado, com objetivo aspiracional - Terrain Relative Navigation (Astrobotic, EUA)
Sensor desenvolvido pela empresa para permitir pousos de alta precisão na Lua, com incerteza inferior a cem metros - Lunar Dream Capsule (Astroscale, Japão)
Uma cápsula do tempo enviada à Lua, contendo mensagens de mais de 80 mil crianças do mundo todo - Iris Lunar Rover (Universidade Carnegie Mellon)
Um pequeno rover para testes tecnológicos embarcado na primeira missão lunar da Astrobotic - MoonArk (Universidade Carnegie Mellon)
Uma ‘arca’ que abrange artes, humanidades, ciência e tecnologia, com objetos destinados a inspirar futuras gerações - Memorial Spaceflight Services (Elysium Space)
Cápsula portando amostras de cinzas humanas a ser deixada na superfície da Lua - Memorial Spaceflight (Celestis)
Amostras de cinzas humanas a serem depositadas na Lua, além de uma carga a permanecer em órbita do Sol - M-42 (DLR, agência espacial alemã)
Detector de radiação para investigar impactos sobre a saúde humana em caso de visitas tripuladas à Lua - DHL MoonBox (DHL, Alemanha)
Empresa de transportes levou objetos de valor pessoal (fotos, livros, trabalhos de escola) para serem deixados na Lua - Digital Art Gallery (Lunar Mission One, EUA)
Dispositivo digital de armazenamento a ser depositado na Lua - Memory of Mankind on the Moon (Puli Space Technologies, Hungria)
Placa em memória da humanidade na Lua, com imagens de arquivo e textos líveis com uma ampliação de dez vezes - Spacebit Plaque (Spacebit, Reino Unido)
Placa celebratória de empresa de tecnologia britânica concentrada em novas oportunidades na exploração comercial da Lua - The Arch Libraries (The Arch Mission Foundation, EUA)
Dispositivos com arquivos a serem preservados por longos períodos de tempo no ambiente espacial