Publicada em 23/02/2024 às 11h38
Porto Velho, RO – Em um cenário político cada vez mais polarizado, as declarações e ações dos representantes públicos são observadas com atenção redobrada. Recentemente, o deputado federal Coronel Chrisóstomo, do PL, utilizou as redes sociais para prometer um embate político inusitado, afirmando que a esquerda "vai levar pau".
No entanto, diante de seu histórico, surge a indagação: até que ponto suas palavras refletem uma coerência em seus posicionamentos?
No discurso, Chrisóstomo fez menção aos atos previstos para o dia 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, em São Paulo, convocados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em defesa da democracia.
O deputado expressou respeito aos Poderes constituídos, mas, ao mesmo tempo, levantou críticas ao presidente Lula, do PT, em relação à sua postura sobre o Estado de Israel sobre a sociedade civil palestina, comparando-a ao Holocausto.
"Hitler brasileiro", diz usuário do Twitter usando a mesma imagem que Chrisóstomo / Reprodução-Print Screen
Entretanto, uma análise mais profunda revela possíveis inconsistências em sua postura. Em julho de 2023, o jornal eletrônico Rondônia Dinâmica revelou que Chrisóstomo utilizou uma foto adulterada do acervo do Supremo Tribunal Federal (STF) para tachar o ministro Alexandre de Moraes como ditador. Essa montagem, que já havia circulado nas redes sociais comparando o ministro a Adolf Hitler, suscita questionamentos sobre a coerência do deputado em seus posicionamentos.
Considerando que o deputado se posiciona contra a suposta banalização do Holocausto ao criticar Lula, seria pertinente questionar se a utilização da referida montagem não configura uma forma de desrespeito ao povo judeu e ao Estado de Israel. Além disso, como conciliar sua postura crítica em relação à suposta alusão a Hitler por parte de Lula com sua própria utilização de uma imagem que remete ao ditador alemão?
Deputado de Rondônia usa imagem adulterada do acervo do STF / Reprodução-Print Screen
A sociedade e os eleitores, diante dessas informações, se veem diante de um dilema: até que ponto as ações e declarações de um representante político refletem seus verdadeiros valores e princípios? Seria possível conciliar a defesa da democracia com o respeito aos limites éticos e morais na arena política? Essas são perguntas que emergem diante do cenário político atual e que demandam reflexão e análise cuidadosa.
Por um lado, é essencial ressaltar que a banalização do Holocausto consiste em comparar – ainda que indiretamente – figuras controversas da atualidade, como Alexandre de Moraes, a um dos maiores genocidas da história, Adolf Hitler.
Embora as decisões judiciais do magistrado possam ser contestadas e criticadas, é crucial esclarecer que ele nunca esteve envolvido em atos que resultaram na perda de vidas humanas.
Portanto, utilizar uma imagem que já foi associada a Hitler para difamá-lo não apenas desconsidera a gravidade do Holocausto, mas também representa um desrespeito ao sofrimento do povo judeu, que enfrentou um extermínio em massa durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao analisar as críticas de Lula em relação às ações militares de Israel na Palestina, é necessário contextualizar que se trata de uma concepção política sobre as deliberações governamentais e estratégias militares de um país, não uma demonização do povo israelense como um todo.
O ex-presidente estabeleceu críticas às ações específicas do Estado de Israel, especialmente em relação aos ataques contra alvos civis palestinos na Faixa de Gaza, incluindo crianças. Nesse sentido, sua postura deve ser compreendida como uma manifestação legítima de discordância política, não como uma ofensa ao povo israelense em sua totalidade.
A FOTO ORIGINAL:
A FOTO ADULTERADA USADA PELO DEPUTADO:
Diante desses argumentos, surge a indagação: ao usar uma imagem previamente associada a Hitler em redes sociais para atacar Alexandre de Moraes, Coronel Chrisóstomo não teria ferido o povo judeu e desconsiderado a gravidade do Holocausto?
E, considerando a ação do deputado, não seria uma forma de hipocrisia pedir o impeachment de Lula, dado que ele criticou ações governamentais, enquanto Chrisóstomo utilizou uma imagem associativa que remete a uma das maiores tragédias da história humana?
Essas questões são deixadas ao discernimento do leitor, que deve ponderar sobre os limites éticos e morais no debate político contemporâneo.