Publicada em 17/02/2024 às 09h52
Porto Velho, RO – O senador de Rondônia Marcos Rogério, do PL de Rondônia, correligionário de Jair Bolsonaro, ex-presidente, do preso Valdemar Costa Neto e do colega Jaime Bagattoli, participou no decorrer de semana de um programa de rádio regional.
Um daqueles programas de perguntas fáceis e “levantamentos de bola”. A despeito do clima cem por cento favorável, sem qualquer pergunta que o colocasse numa posição de obrigatoriedade em prestar contas aos rondonienses, Rogério não conseguiu esconder o seu medo em relação ao Supremo (STF), especialmente quando tocam no nome do ministro Alexandre de Moraes.
“O Alexandre de Moraes está no ‘fio da navalha’ ou ‘nadando de braçada?’”, perguntou um dos entrevistadores.
No momento, Rogério não conseguiu esconder o desconforto corporal, e emendou:
“Vou falar algo pra você importante. Porque hoje, veja, a gente tem de ficar medindo as palavras [...]”, respondeu após “amarelar” com a indagação.
Em seguida, fez uma série de tergiversações genéricas e um exercício freestyle de futurologia ao dizer que o Senado não votaria impeachment de ministros do STF.
“Não tem voto! Precisa de 54 votos. Não tem votos para cassar um ministro do Supremo Tribunal Federal”. Aí para aliviar, continuando pelo caminho esotérico, falou que na próxima legislatura, aí sim -- sempre na próxima --, a direita elegerá senadores conservadores em números suficiente para destituir um magistrado do Pretório Excelso. Em suma, algo como as famosas sentenças habituais dos procrastinadores: "Ah, amanhã eu faço". "Outro dia eu resolvo". "Deixa pra semana que vem".
Tirando isso, deixou no ar uma questão sobre possível prisão de Bolsonaro e como é importante a participação popular na manifestação convocada pelo militar para ocorrer na Avenida Paulista, no dia 25 de fevereiro.
Nos demais pontos da entrevista levada em tom de comadres, o político excursiona por pontos nevrálgicos relacionados à democracia brasileira, tomando sempre cuidado com o tom.
Após um tempo sem falar em Bolsonaro com aquela veemência que o tornou famoso no Brasil inteiro ao defender a gestão do capitão reformado do Exército na condução da pandemia durante seu governo, o senador regressou à relação “comensalista” com o bolsonarismo.
Apostando no ideologismo regional para prosperar politicamente, aborda assuntos inócuos como um dos temas escolhidos pela escola de samba Vai-Vai, de São Paulo, para criticar a Polícia Militar como entidade. Enfim, o tipo de trivialidade de “rende o bloco” e atiça a “bolha”. Ah, sim, claro, a culpa do enredo escolhido pela agremiação momesca paulista é, óbvio, de Lula (PT), reforçando a antagonização direita-esquerda.
Por fim, não cansado de “apanhar” em dois turnos nas eleições de 2022, o membro de Rondônia na Câmara Alta remontou o palanque eleitoral e voltou a acusar o governador reeleito Coronel Marcos Rocha, do União Brasil, de “comprar” prefeituras.
Ainda sem aceitar o fato de ser “lavado à lona”, vociferou:
“Eu fui candidato. Eu disputei a eleição com ele. Foi um jogo desigual. Foi um jogo desigual. Uso e abuso da máquina. Pegou as prefeituras, todas, comprou as prefeituras para apoiá-lo. E estou vendo agora um novo movimento do governo na véspera de uma eleição [...]”, acusou sem apresentar provas.
Não informou quais prefeituras foram compradas. Quais prefeitos se sujeitaram às compras. Como se deram essas transações. Quem pagou. Ou como pagou. Simplesmente jogou um apontamento a esmo em rede pública de comunicação, sem responsabilidade alguma, falando por falar, e este é um sintoma gritante do fato de Marcos Rogério não compreender ainda que a imunidade parlamentar não pode nem deve ser ilimitada, irrestrita.
No fim, o mais do mesmo: Rogério não aprendeu que conversa fiada não ganha eleição, embora fomente a sanha dos seguidores e só.
Adorei o tom incisivo e crítico da reportagem. Precisamos de mais jornalistas assim, que "cutuquem" os políticos e cobrem que eles cumpra seu dever, não de comadres que ficam apenas fazendo entrevista "chapa-branca"! Parabéns!