Publicada em 27/03/2024 às 09h26
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta quarta-feira (27) que o governo prepara um pacote de medidas para destravar o crédito imobiliário ofertado pelos bancos no país.
As medidas, segundo Haddad, devem ser anunciadas no começo de abril. O ministro avaliou que esse mercado é mais desenvolvido em outras nações.
"Nós vamos tomar medidas a semana que vem que vão destravar esse mercado imobiliário. Nós vamos criar um mercado secundário de títulos imobiliários muito robusto para fazer com que o crédito imobiliário rode no Brasil e possa ser multiplicado por muitas vezes. Chega a ser dez vezes mais o crédito imobiliário em alguns países do que é no Brasil. Então imagina você o potencial de crescimento da economia brasileira a partir da construção civil", disse Haddad, em entrevista à rádio Itatiaia.
De acordo com o ministro da Fazenda, a ideia é permitir que os bancos vendam a terceiros os contratos de financiamento imobiliário que estão em sua carteira, classificados como "recebíveis".
Ao repassar esses contratos a outras instituições, os bancos abrem espaço em seus balanços para liberar novos financiamentos imobiliários.
Segundo ele, esse tipo de mecanismo é comum em todo o mundo, mas raro no Brasil. "Então, nós vamos fazer isso e isso vai alavancar muito a construção civil no Brasil", declarou.
"É uma questão técnica um pouco chata de abordar porque ela é muito específica, mas no Brasil você não tem um mercado de crédito tão robusto quanto você tem no mundo desenvolvido. No mundo desenvolvido, o recebível com garantia de imóvel é um recebível que é vendido no mercado com muita naturalidade", explicou ele.
"Vamos supor que o banco vendeu uma casa parcelada com garantia do imóvel para quem quer que seja. Esse ativo do banco, esse recebível do banco, tem um mercado secundário muito robusto no mundo desenvolvido. Não fica na carteira do banco. O banco logo revende e abre espaço no seu balanço para financiar outro imóvel", disse.
Demanda do setor
O ministro Haddad afirmou, ainda, que se reuniu recentemente com representantes do setor imobiliário para desenvolver esse produto, e afirmou que a proposta foi recebida com um "entusiasmo muito grande".
"Então eu penso que a classe média, a classe trabalhadora, vão ter novidades, boas novidades a comemorar no futuro próximo com a edição dessa medida ainda, possivelmente no começo de abril, a partir da semana que vem", concluiu.
O ministro da Fazenda não detalhou como será feita a regulamentação dessa transferência de ativos (recebíveis) entre instituições financeiras e se será permitida "alavancagem" desses ativos no mercado futuro (derivativos).
Nos Estados Unidos, antes de 2008, a concessão desenfreada do crédito imobiliário – que deu origem à uma "alavancagem" elevada no jargão financeiro, ou seja, sua multiplicação no mercado futuro (derivativos) – culminou na crise do "subprime".
Como consequência do subprime norte-americano, houve a quebra do banco Lehman Brothers, e vários bancos de peso dos Estados Unidos tiveram fundir, ou ser salvos pelo Tesouro daquele país.
A crise se espalhou fortemente naquele momento não só pela economia norte-americana, mas pelo resto do mundo (por conta dos ativos detidos por instituições financeiras de outros países), gerando recessão e aumento da pobreza.