Publicada em 24/04/2024 às 10h32
Um grupo de 12 garimpeiros foi capturados por indígenas, nesta terça-feira (23), na Terra Yanomami, segundo a Urihi Associação Yanomami (UAY). Os indígenas entregaram os invasores para agentes da Força Nacional que estão no território (veja o vídeo acima).
Os garimpeiros foram rendidos em uma área conhecia como "Malária", na região de Homoxi, uma das mais atingidas pelo garimpo no território, que fica entre Roraima e o Amazonas.
No vídeo é possível ver o grupo de invasores, 10 homens e duas mulheres, chegando a pé ao local onde havia uma equipe da Força Nacional. Em seguida, os indígenas aparecem com flechas e espingardas.
"[Eles] fizeram isso pelo fato de que estavam presenciando o seu único meio de consumir água ser contaminado por mercúrio, em razão da presença dos garimpeiros na localidade", afirmou a associação em ofício enviado ao Ministério Público Federal, Casa de Governo, Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Polícia Federal e Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Ao g1, o MPI informou que os garimpeiros estão sob escolta da Força Nacional e, na manhã desta quarta-feira (24), serão levados, de aeronave, para a sede da PF em Boa Vista. O g1 também procurou os demais órgãos citados, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Com 9,6 milhões de hectares, a Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial e enfrenta uma crise sem precedentes devido ao avanço do garimpo ilegal, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa.
No documento sobre a captura dos garimpeiros, assinado pelo presidente Júnior Hekurari, a Urihi cobrou mais rapidez nas operações de retirada dos invasores, especialmente nas áreas mais isoladas. Na avaliação da associação, as operações se tornam ineficientes se não forem acompanhadas de monitoramento e estratégias específicas nos pontos de entrada do território.
"As operações já executadas estão muito aquém da necessidade de proteção exigida para frear uma nova expansão do garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Yanomami, destacando-se que ainda é possível detectar a presença de invasores nas referidas regiões com episódios de violências".
Aos órgãos federais, a Urihi pediu uma articulação conjunta para retirada imediata dos invasores do local, preservando a integridade física da população, e dos Yanomami que capturaram os criminosos.
Terra Yanomami
A Terra Yanomami está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas. Além de enviar forças de segurança a região para frear a atuação de garimpeiros.
Mesmo com o enfrentamento, um ano após o governo decretar emergência, o garimpo ilegal e a crise humanitária permanecem na região.
O Ministério dos Povos Indígenas (MPI) estima que cerca de sete mil garimpeiros ilegais continuam em atividade no território. O número de invasores diminuiu 65% em um ano, se comparado ao início das operações do governo federal, quando havia 20 mil invasores no território.
Área destruída pelo garimpo ilegal na região do Rio Catrimani, na Terra Yanomami. — Foto: Ailton Alves/Rede Amazônica
Em março deste ano, 600 indígenas, entre pacientes e acompanhantes, estavam vivendo na Casa de Saúde Indígena Yanomami (Casai), na capital Boa Vista. O local recebe os indígenas que estão com doenças mais graves e precisam receber atendimento de saúde dos hospitais na capital.
No dia 4 de abril, o Instituto Socioambiental em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou um estudo que mostra que indígenas de nove comunidades da Terra Indígena Yanomami têm alto nível de contaminação por mercúrio. A pesquisa aponta que 94% dos indígenas que participaram da pesquisa estão contaminados pelo metal pesado.
Para combater a permanência dos invasores no território, as forças de segurança do governo federal deflagraram a operação Catrimani II. A nova fase de retirada de garimpeiros ocorre após a instalação da Casa de Governo em Roraima, que tem o objetivo de monitorar e enfrentar a crise Yanomami.