Publicada em 01/04/2024 às 11h17
Porto Velho, RO – No último 31 de março, quando se completam 60 anos do golpe militar de 1964, o senador Confúcio Moura, representante de Rondônia no Senado Federal e único membro da bancada federal aliado à gestão de Lula no Palácio do Planalto, refletiu sobre os impactos e desdobramentos desse período sombrio da história brasileira.
Natural de Tocantins, Confúcio tinha apenas 16 anos quando o regime militar se instalou no país. Contudo, suas memórias são vívidas, e ele compartilha sua trajetória desde os anos de juventude até sua atuação política atual.
"Eu tinha quase 16 anos quando irrompeu a ditadura militar de 1964. Ainda era adolescente, morava no estado de Tocantins, na cidade de Dianópolis, mas sempre fui muito atento a todas essas manifestações políticas, mesmo muito jovem e sertanejo do interior do Brasil", relembra Confúcio em seu blog.
Desde os tempos de escola em Goiânia até sua carreira como militar em Rondônia, Confúcio testemunhou e sentiu na pele os horrores e as consequências da ditadura. "Perdíamos todos os políticos da centro-esquerda brasileira; todos os intelectuais, professores das universidades, artistas, estudantes secundaristas e universitários. Houve muita tortura, muita violência", desabafa.
O senador lamenta a polarização atual da sociedade brasileira e observa com tristeza a nostalgia de alguns setores por um regime autoritário. "Agora, estamos nós aqui, em pleno 2024, ainda amargando uma polarização brasileira, muita gente pedindo a ditadura militar", constata.
Apesar das adversidades históricas, Confúcio defende uma visão de futuro para o Brasil, pautada na superação da pobreza e das desigualdades sociais. "Precisamos encontrar modelos inteligentes de sobrevivência, modelos de superação da nossa pobreza, de pensamento grandioso, futurista, para realmente combater a miséria, a desigualdade brasileira, promover o crescimento justo, equilibrado", destaca.
Encerrando suas palavras, o senador reitera sua posição contrária à ditadura e reafirma seu compromisso com o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos.
"Eu não comemoro este dia 31 de março com glória. Eu repugno completamente esses princípios. Eu vou convivendo, vou trabalhando, no meio termo, sem fazer críticas frontais a ninguém, mas, aqui dentro do meu coração, eu repudio veementemente, eu não concordo, de maneira nenhuma, com uma nova ditadura", conclui Confúcio Moura.
CONFIRA O TEXTO NA ÍNTEGRA:
60 anos do golpe de 64
Por Confúcio Moura
Eu tinha quase 16 anos quando irrompeu a ditadura militar de 1964. Ainda era adolescente, morava no estado de Tocantins, na cidade de Dianópolis, mas sempre fui muito atento a todas essas manifestações políticas, mesmo muito jovem e sertanejo do interior do Brasil. No entanto, o tempo foi passando, e, dos 18 para os 19 anos, eu me mudei para Goiânia, quando ainda transcorria efetivamente o primeiro governo do ditador brasileiro Castelo Branco. Na escola, no ensino médio, nas faculdades, nos diretórios acadêmicos, na vida, combatia-se a ditadura; havia um subterrâneo de manifestações. Eu mesmo tive vários colegas presos naquela ocasião, jovens, mulheres e homens; e assim foi feito. Fui amadurecendo, 18, 20 anos, me graduei. Fui militar por 10 anos, sargento da Polícia Militar de Goiás, durante a efetivação da ditadura militar. Vim para Rondônia em 1976, janeiro.
Enquanto isso, perdíamos todos os políticos da centro-esquerda brasileira; todos os intelectuais, professores das universidades, artistas, estudantes secundaristas e universitários. Houve muita tortura, muita violência. A ditadura poderia ter aproveitado esse tempo de exceção para implantar os rumos de um Brasil diferente, porque, praticamente, não existia oposição no Congresso Nacional. Mas nada disso ocorreu. A ditadura se especializou na tortura, se especializou nos seus sistemas de informação. Ela se especializou, justamente, na arte de toda a ignomínia política brasileira, e se esqueceu de governar. O governo militar tinha um plano de soberania nacional, um plano ultranacionalista, um plano ultradireitista, e tudo isso foi acontecendo nos seus 21 anos de exercício de exceção. Praticamente nada de bom aconteceu. Depois, com a anistia, foram voltando os verdadeiros líderes brasileiros, os intelectuais, os pesquisadores e os cientistas que estavam no exílio, inclusive Juscelino Kubitschek, Niemeyer, Hidelbrando, Fernando Henrique, Arraes, Brizola, enfim, todos. Posso dizer a vocês, de cátedra e experiência pessoal, que eu vivi esse tempo, e não tenho nenhuma saudade; não tenho nenhum orgulho.
Quando vejo, hoje, o povo brasileiro polarizado, exaltando princípios que foram as bases da ditadura de 64, eu fico muito triste. Talvez esse pessoal de hoje não queira ler a história, não queira ver tudo isso. As manifestações que existiram no Brasil na década de 60, como mulheres se expressando, pedindo a ditadura militar, contra João Goulart, com medo do comunismo – e ele na realidade não era comunista, mas assim o taxaram. Agora, estamos nós aqui, em pleno 2024, ainda amargando uma polarização brasileira, muita gente pedindo a ditadura militar.
Há pouco tempo muita g ente foi para a frente dos quarteis pedirem intervenção, querendo uma nova ditadura, querendo um novo “Estado Novo de 1937”. Acho que o pessoal não tem memória histórica, ou estão brincando de repetir o passado nefasto. Nós precisamos encontrar modelos; modelos inteligentes de sobrevivência, modelos de superação da nossa pobreza, de pensamento grandioso, futurista, para realmente combater a miséria, a desigualdade brasileira, promover o crescimento justo, equilibrado. Chamar quem está de fora para dentro do Brasil; isso é fundamental.
Eu não comemoro este dia 31 de março com glória. Eu repugno completamente esses princípios. Eu vou convivendo, vou trabalhando, no meio termo, sem fazer críticas frontais a ninguém, mas, aqui dentro do meu coração, eu repudio veementemente, eu não concordo, de maneira nenhuma, com uma nova ditadura.