Publicada em 10/04/2024 às 09h33
Porto Velho, a eterna capital de Roraima, é uma cidade totalmente sem nenhuma expectativa. Tanto no sentido real como no sentido figurado. A realidade da cidade é sombria, sinistra, macabra, sepulcral, totalmente incerta e sem esperanças de dias melhores. Recentemente foi declarada como a pior dentre as 27 capitais do Brasil. O Instituto Trata Brasil, pela décima vez consecutiva, mostra com números irrefutáveis que a “capital das sentinelas avançadas” detém os piores números em saneamento básico, água tratada e qualidade de vida. Mas, por incrível que pareça, a maioria dos seus habitantes parece estar feliz e satisfeita com a tenebrosa situação. Pesquisas recentes dão conta de que a capital de Rondônia tem uma das menores expectativas de vida do mundo. Aqui se vive somente uns 61 anos. Além de vergonhoso, esse número é hilário e absurdo.
Um cidadão que nasceu e ainda vive em São Luís do Maranhão, Teresina no Piauí, Cuiabá no Mato Grosso e até em Rio Branco, a insólita capital do Acre, tem uma expectativa de vida bem maior do que aquele cidadão que teve a má sorte e a infelicidade de ter nascido por aqui às margens do rio Madeira. Vergonhosamente Porto Velho perde até para países ridículos da África subsaariana como Camarões, Sudão e Eritreia. Perde também para o Haiti, o país mais pobre do hemisfério ocidental. Em expectativa de vida, nós praticamente só empatamos com o Afeganistão dos talibãs, com a Etiópia, com Ruanda e o Quênia. Até a Bolívia, país que muitos rondonienses já se acostumaram a falar mal, tem uma expectativa de vida superior a 71 anos. Além de não ter nenhuma expectativa, Porto Velho também não tem sequer um porto de passageiros no rio Madeira.
A cidade praticamente também não tem um aeroporto que preste. Pelo ar, estamos isolados já há quase um ano e ninguém toma providências. Várias companhias aéreas fazem boicote na cara das autoridades e se recusam a aumentar o número de voos diários naquele tosco “campo de pouso”. O porto de passageiros é uma nojeira só. Chegando de barco pelo Madeira a recepção que se tem é um barranco cheio de lama podre e repleto de urubus e carniça. Outro dia contei pelo menos 85 aves de rapina voando por ali. Quem é o responsável por aquela área abandonada? O DNIT? A Santo Antônio Energia? A Câmara de Vereadores? A prefeitura de Porto Velho? O governo do Estado? Ora, se a prefeitura ainda não entregou ao povo nem a praça da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Quem lambe botas dessas autoridades devia era se envergonhar das condições do “porto”.
E este ano tem eleições municipais. Mas quem está preocupado com o Baixo Madeira e com as pessoas que moram em São Carlos, Nazaré, Ilha de Assunção, Terra Caída, Conceição do Galera ou até mesmo Calama? Juntando todas essas simpáticas vilazinhas não há mais do que uns dois ou três mil eleitores. E pior: são quase todos eleitores pobres. Político, de um modo geral, não se preocupa com gente pobre nem com pouco voto. Deve ser por isso que o porto do Cai N’água é um lixo só. E aqueles urubus ali, além de serem a vergonha para os defensores da abandonada cidade deviam ser também o símbolo da decadência de Porto Velho e de seus ricos, abastados e insensíveis administradores. A síndrome da “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre se aplica muito bem a esta triste situação. O povo do Baixo Madeira devia merecer mais respeito, pois a “capital dos destemidos pioneiros” iniciou por Calama e adjacências. Sacanagem!
*Foi Professor em Porto Velho.