Publicada em 14/05/2024 às 11h52
Na Região Central de Rondônia, a 479 km da capital, o município de Cacoal celebra sua herança como pioneiro na produção de café, uma cultura que floresceu depois do fim do ciclo do extrativismo vegetal, marcado pela extração de látex e de cacau, iniciada no começo do século 20 e pelo setor madeireiro, que vigorou a partir de 1970.
Emancipado de Porto Velho em 1977, Cacoal investiu na cafeicultura, ganhando o título de ‘Capital do Café’ do estado. Apesar dos desafios impostos pela pecuária e soja que se intensificaram em todo o estado no final da década de 1990, o café de Cacoal ressurgiu com mais força no século 21, hoje a produção anual é de 13 mil toneladas, conforme o IBGE.
A tradição de Cacoal como ‘capital’ persiste, não apenas por sua história, mas também por ser um município-polo com 87 mil habitantes, o quinto maior de Rondônia, localizado estrategicamente às margens da BR-364. No entanto, já não é o maior produto de café do estado. Fica atrás de seis: São Miguel do Guaporé (44 mil toneladas), Alta Floresta do Oeste e Alto Alegre dos Parecis (empatados: 23 mil toneladas), Nova Brasilândia do Oeste (18 mil), Buritis (16 mil) e Ministro Andreazza (15 mil). Estes municípios estão entre os 100 maiores produtores do Brasil.
Café secando no terreiro: tradição
A média de produtividade no estado é de 32 sacas de café conilon por hectare – no Espírito Santo, é de 45,94 sacas para a mesma espécie. Mesmo que inferior ao estado que segue na dianteira, o índice de produtividade rondoniense é considerado excelente. “O manejo de poda, a irrigação, a adubação e a utilização de material genético clonal de qualidade, com a orientação científica, foram ações fundamentais para o aumento da produtividade em Rondônia”, explica Enrique Alves, agrônomo da Embrapa. Outro fator que favorece o cultivo é que as áreas produzidas têm temperatura média de 26 graus e estão acima de 300 metros de altitude.
Cacoal inspirou os outros municípios rondonienses a cultivar, apesar das adversidades iniciais, como a falta de apoio dos órgãos de pesquisa e de extensão rural e desafios logísticos. “Acreditávamos no potencial do café, mas nem rodovia asfaltada tínhamos até 1984. Chegaram o agronegócio e a pecuária de precisão, mas resistimos e apostamos no café. A Embrapa foi uma importante parceira neste projeto”, relata o agricultor Aparecido Oliveira, 62.
Uma das explicações para a ‘vocação’ de Cacoal para a cafeicultura está no perfil dos seus migrantes. Muitos são descendentes de italianos que vieram para o Brasil para atuar nas lavouras após a abolição da escravatura, em 1888. Neste período, surgiram as primeiras ferrovias no país e o Porto de Santos, inaugurado em 1892, confirmando o café como o principal produto de exportação do país.
Embora Cacoal surja apenas sete décadas depois desta história da ascensão do café como base da economia brasileira decorrente do novo modal impulsionado pelas ferrovias no Sudeste, a referência persiste na “genética cafeeira” dos migrantes rondonienses. Mais do que em outros municípios, o município de Cacoal avançou com a presença de muitos capixabas descendentes de italianos ou que aprenderam com estes as técnicas de produção e de comercialização dos grãos observadas nas velhas fazendas dos ‘barões do café’ e seus escravizados.
Neste contexto, surgiram muitas empresas e pequenas propriedades que apostaram no café. Um exemplo: há quase 40 anos surgiu uma das principais beneficiadoras: a Máquina Irmãos Trevizani, que tem diversas ramificações no estado e fatura, só em Cacoal, cerca de R$ 11 milhões anuais. Os proprietários têm sangue italiano e migraram do Espírito Santo para Rondônia em meados da década de 1980.
O Espírito Santo – hoje, segundo maior produtor do país [se incluídas as espécies arábica e conilon] – tem tradição na cafeicultura e, ao lado de Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Paraná, tornou-se ‘case’ no mercado internacional. Cacoal também persegue essa distinção, considerando toda expertise e o lastro histórico já acumulado. Na espécie conilon [é o mesmo que robusta], os dois maiores produtores são ES e RO, nesta ordem. O mercado externo, porém, aceita melhor o café arábica, que é considerado “bebida fina”, pois possui o dobro de cromossomos: 44.
De acordo com a Embrapa, os principais estados produtores de café no Brasil são: Minas Gerais (54,3% da produção nacional), Espírito Santo (19,7%), São Paulo (9,8%), Bahia (7,5%), Rondônia (4,3%) e Paraná (2,7%). Esses seis estados atingem 98% da produção nacional). Se considerada apenas a espécie robusta, Rondônia sobe à segunda posição e o ranking fica assim: ES, RO, BA, PR, MG e SP. O Espírito Santo produz 10 milhões de sacas por ano e responde por 70% da produção nacional de robusta; Rondônia produz 3,88 milhões de sacas – a safra de 2024 será 4% maior em relação ao ano anterior, segundo expectativa do mercado.