Publicada em 21/05/2024 às 11h36
A Espanha anunciou nesta terça-feira (21) que vai retirar de forma definitiva sua embaixadora na Argentina, em um gesto que escala e aprofunda a crise diplomática entre os dois países.
A crise começou após o presidente argentino, Javier Milei, chamar a esposa do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, de corrupta por conta de uma investigação arquivada contra ela (leia mais abaixo). Madri, como reação, convocou sua embaixadora em Buenos Aires e exigiu pedido de desculpas por parte de Milei.
Na segunda-feira (20), no entanto, o presidente argentino aumentou a aposta da briga e disse que não se desculparia.
Nesta manhã, o ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, anunciou então a retirada permanente de sua embaixadora em Buenos Aires. "Nossa embaixadora ficará definitivamente em Madri, e a Argentina continuará sem embaixadora", disse Albares.
Com o movimento, a Embaixada da Espanha na Argentina passa a funcionar apenas como uma representação de negócios entre os dois países.
O chanceler espanhol afirmou que o gesto de Milei foi um "assalto à boa fé e à hospitalidade" da Espanha, em referência à visita que o presidente argentino fez a Madri na semana passada.
Milei foi participar de um evento organizado pela extrema direita espanhola e não se encontrou com o premiê nem com o rei da Espanha, que é o chefe de Estado do país.
"Mesmo assim, acolhemos o presidente argentina da forma como devemos fazer com um presidente da Argentina, que é uma república irmã da Espanha. Permitimos que ele aterrizasse e decolasse da base de Torrejón de Ardoz (base militar por onde chegam chefes de governo e Estado em visitas oficiais), oferecendo garantias de segurança. E a resposta foi um ataque frontal com insultos a nossas instituições", disse o chanceler.
Javier Milei criticou a retirada da embaixadora, que chamou de reposta desproporcional.
Na segunda-feira, ao comentar a crise, o premiê espanhol já havia afirmado que a reação de seu governo seria proporcional "à dignidade que representa a democracia espanhola e aos laços de irmandade que unem" os dois países.
Milei se referiu à esposa de Pedro Sánchez como uma "mulher corrupta" durante a convenção "Europa Viva 24", um evento de líderes da extrema direita organizado pelo partido espanhol Vox, em Madri, durante o fim de semana.
"As elites globais não percebem o quão destrutivo pode ser implementar as ideias do socialismo (...), mesmo que você tenha a esposa corrupta, digamos, suja-se [sic] e tire cinco dias para pensar sobre isso", disse Milei, em referência a um período de cinco dias de reflexão que Sánchez anunciou no fim de abril para decidir se renunciaria diante de acusações contra sua esposa.
Em abril, a Justiça espanhola aceitou uma denúncia contra a esposa do premiê, Begonã Gómez, feita pela associação Manos Limpias, um coletivo ligado à extrema direita que Sánchez acusa de estar perseguindo sua família há anos.
A Manos Limpias acusou Gómez de tráfico de influência e corrupção empresarial. No entanto, o Ministério Público arquivou depois a investigação com a alegação de que as provas apresentadas -- informações da imprensa indiretamente relacionadas à esposa de Sánchez -- não eram suficientes.
Segundo o portal espanhol "El Confidencial", a investigação envolvia os vínculos de Begoña Gómez com o grupo turístico espanhol Globalia, proprietário da companhia aérea Air Europa, quando esta última estava em negociações com o governo para obter um resgate durante a pandemia de Covid-19, o que acabou conseguindo.