Publicada em 31/05/2024 às 11h50
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou a jornalistas latino-americanos, em Kiev, que o governo brasileiro prioriza a "aliança" com a Rússia, um país "agressor".
Segundo o jornal "O Globo", presente na entrevista, Zelensky deu a declaração ao comentar as posições do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à guerra entre Ucrânia e Rússia, que se arrasta há mais de dois anos.
"Como se pode priorizar a aliança com um agressor?", disse Zelensky, de acordo com "O Globo".
O jornal informou que Zelensky entende que o governo brasileiro deve estar ao lado da Ucrânia, país invadido pelo exército russo. Ele cobrou de Lula um "ultimato" ao presidente russo, Vladimir Putin, e ressaltou que questões econômicas não podem ser priorizadas.
"A economia é importante até que chega uma guerra, e quando a guerra chega os valores mudam. Pesam mais as crianças, a família, a vida, só depois está o comércio com a Federação Russa", disse.
O Palácio do Planalto foi procurado para comentar as declarações de Zelensky, porém não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
Conforme "O Globo", há um consenso entre funcionários e diplomatas ucranianos a respeito de uma posição pró-russa do governo brasileiro, alinhado com a China. A Ucrânia acredita que Lula não participará de uma reunião em junho convocada pela Suíça para discutir a guerra.
Zelensky declarou não entender o motivo para Lula não confirmar presença na reunião.
"A última sinalização é de que Brasil e China estariam dispostos a participar se a Rússia participar. Mas a Rússia nos atacou. Por acaso o Brasil está mais próximo da Rússia do que da Ucrânia? A Rússia é hoje um país terrorista", disse o presidente da Ucrânia.
Na entrevista, Zelensky critica o fato de Lula não participar da reunião convocada pela Suíça em junho para discutir o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Fontes da área internacional do governo, ouvidas pela GloboNews, avaliam que reuniões como a convocada pela Suíça não costumam ter resultados concretos, na medida em que não colocam o lado russo na mesa para conversar. O Brasil participou de, pelo menos, cinco encontros de forma presencial ou virtual para discutir o tema, patrocinados politicamente pela Ucrânia.
Interlocutores de Lula entendem que o governo ucraniano, de forma legítima, tenta angariar apoios para a sua causa. O governo brasileiro, contudo, entende que é preciso conversar com todos os lados do conflito, desde países do ocidente ate países mais alinhados à posição russa.
Zelensky x Lula
Ao longo de 2023, Lula investiu, sem sucesso, em tentativas de atuar como mediador de um diálogo entre Ucrânia e Rússia para o fim da guerra.
O presidente declarou que, durante viagem à China e aos Emirados Árabes, que a Ucrânia também tinha responsabilidade pela guerra e que Estados Unidos e União Europeia contribuíam para continuidade do conflito armado.
Em meio a críticas internacionais, Lula amenizou o discurso, disse que não igualava Rússia e Ucrânia, e defendeu a integridade territorial ucraniana. O governo brasileiro entende que a negociação de paz deve ter a participação de russos e ucranianos.
Lula e Zelensky se encontraram em setembro de 2023, em Nova York. Em outubro, o presidente brasileiro conversou por telefone com Putin. O chefe da assessoria especial de Lula, Celso Amorim, também esteve na Rússia e na Ucrânia para discutir os rumos do conflito armado.