Publicada em 21/05/2024 às 09h13
Lobão, que está em turnê com o show "50 Anos de Vida Bandida", criticou a instituição da meia-entrada, que enxerga como uma "perversão" que só existe no Brasil e prejudica a vida dos artistas. "Dentro do show business mundial, o Brasil é uma jabuticaba. Porque só funciona desse jeito aqui. Nos outros lugares, ninguém vai entender meia-entrada. Como é que vão tirar 50% [do orçamento]? Imagine, você vai ao dentista, vai tirar 50% da consulta?", questionou o cantor e compositor em entrevista ao podcast Portas Abertas, apresentado pelo jornalista Carlos Tramontina.
Segundo Lobão, mesmo insatisfeitos, a maioria dos seus colegas evita criticar o expediente, com medo de sofrer represálias por parte da opinião pública. Ou da opinião do público. "Você vai pegar um desconto, numa liquidação, em geral é 10%, 20%... Agora, você não está em liquidação e sempre é fisgado em 50%!?! E ninguém fala por quê? Porque é uma maldição. Porque não é muito agradável pro público. Ninguém quer falar, ninguém quer se expor e dizer que meia-entrada é uma aberração que acaba com o show business", continuou.
O autor de sucessos como "Me Chama" e "Chorando no Campo" argumentou ainda que a meia-entrada acaba gerando "uma série de vicissitudes e necessidades" no mercado, algumas delas (o grifo é nosso) facilmente verificáveis, como o aumento no preço dos ingressos, com os produtores já calculando o desconto de 50% e colocando na meia o valor de inteira e na inteira, portanto, o valor do dobro.
Para Lobão, a meia-entrada poderia ser um mecanismo interessante de acesso à cultura caso o governo, que o instituiu, cobrisse o prejuízo imposto. "Se o governo, por acaso, cobrisse os 50% pro artista, aí seria legal. Agora, ser literalmente grampeado de 50% e ninguém falar absolutamente nada? É uma perversão onde sempre quem sai perdendo é o artista", conclui.
Na mesma entrevista, ele chamou atenção ainda para um problema adcional, que é a massiva falsificação de carteirinhas de estudante, que dão acesso às meias-entradas: "A própria UNE [União Nacional dos Estudantes] fabrica e distribui".