Publicada em 20/05/2024 às 16h12
O porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, disse nesta segunda-feira (20) que o governo de Javier Milei não tem por que pedir desculpas após o presidente da Argentina ter chamado Begoña Gómez, a esposa do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, de "corrupta".
Pedro Sánchez exige um pedido de desculpas de Milei sobre a fala e disse nesta segunda que as declarações do presidente argentino "não estão à altura" de um chefe de Estado. Além disso, Sánchez sugeriu que continuará aguardando uma retratação e afirmou que a reação de seu governo será proporcional "à dignidade que representa a democracia espanhola e aos laços de irmandade que unem" os dois países.
Milei se referiu à esposa de Pedro Sánchez como uma "mulher corrupta" durante a convenção "Europa Viva 24", um evento de líderes da extrema direita organizado pelo partido espanhol Vox, em Madri, neste final de semana.
Embora ele não tenha identificado Sánchez ou sua esposa pelo nome, a alusão de Milei ao período de reflexão que o primeiro-ministro espanhol tirou para decidir se renunciaria devido às investigações que sua esposa enfrenta permitiu que o casal fosse identificado.
"As elites globais não percebem o quão destrutivo pode ser implementar as ideias do socialismo (...), mesmo que você tenha a esposa corrupta, digamos, suja-se [sic] e tire cinco dias para pensar sobre isso", disse Milei.
Begoña Gómez está sendo investigada pela Justiça espanhola por sua suposta relação comercial com empresas que receberam ajuda do governo. Em reação à investigação, Pedro Sánchez chegou a cogitar deixar o posto de primeiro-ministro, mas anunciou que continua no cargo.
Em resposta às declarações de Milei, o governo espanhol convocou a embaixadora da Espanha na Argentina, María Jesús Alonso, para consultas, qualificando a situação como o momento mais grave nas relações entre os dois países.
Milei reafirma seu discurso
Milei respondeu à convocação de consultas reafirmando o que disse em seu discurso. O presidente argentino repostou a fala nas redes sociais, declarando: "Por mais que algumas pessoas queiram tapar o sol com as mãos (...), aqui estão minhas palavras no VIVA 24 que os deixam tão desconfortáveis".
Em uma mensagem publicada na rede social X, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, expressou seu apoio ao governo espanhol, afirmando que "ataques contra parentes de líderes políticos não têm lugar em nossa cultura: nós os condenamos e rejeitamos, especialmente quando vêm de aliados".
O principal partido de oposição da Espanha, o conservador Partido Popular (PP), recusou-se a aderir à ação do governo, que havia solicitado o apoio de todos os partidos no Congresso espanhol.
"Nosso trabalho é fazer oposição ao presidente de Governo espanhol, não ao presidente da Argentina", disse o porta-voz do PP, Miguel Tellado.
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Desentendimentos constantes
Esse novo desentendimento entre Madri e Buenos Aires se soma ao que ocorreu recentemente por causa das palavras do ministro dos Transportes da Espanha, Óscar Puente.
Puente cometeu o "erro" - de acordo com seu próprio pedido de desculpas posterior - de afirmar que Milei havia ingerido "substâncias" antes de um discurso.
O governo argentino emitiu uma declaração dura condenando essas palavras, mas após o pedido de desculpas de Puente, a questão foi "resolvida" e "finalizada", de acordo com o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, em 6 de maio.