Publicada em 04/06/2024 às 15h53
A brasileira Fatima Boustani, de 30 anos, ferida no último sábado (1º) após um bombardeio atingir sua casa em Saddike, no Sul do Líbano, acordou e conseguiu conversar com os médicos na tarde desta segunda-feira (3). A informação foi dada ao g1 por Hussein Ezzddein, primo do marido dela.
Ela está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Libanês Italiano, em Tiro, também no Sul do país. Fatima teve o rosto desfigurado e estava entubada. Dois dos seus quatro filhos, uma menina de 10 anos e um menino de 9, também estão hospitalizados.
Segundo Hussein, ela acordou preocupada e um pouco nervosa. Quando os médicos informaram que o estado de saúde das crianças apresentou melhora, ela se tranquilizou. Por enquanto, Fatima não conseguiu conversar com a família, apenas com a equipe médica.
"Fatima vai precisar de muito trabalho, na verdade, para construir o rosto dela, porque ele está destruído, não tem nada no rosto mais. Ela precisa de muitas cirurgias e de muitos especialistas que sabem mexer nessa área para construir um rosto de mulher de novo", lamentou o parente.
Hussein também contou que o embaixador do Brasil no Líbano iria visitar Fátima no hospital nesta segunda, porém, durante o deslocamento, parte da cidade foi atacada, e ele não conseguiu chegar.
Atualmente, o marido dela, Ahmad Aidibi, mora em Itapevi, na Grande São Paulo. Ele se mudou para o Brasil em busca de oportunidades de trabalho e deseja trazer a família. "Precisamos trazê-los porque a situação da guerra está ficando mais grave. Os outros dois filhos que não se machucaram estão na casa de parentes, mas não é um local seguro", afirmou o primo.
Os parentes também tentam a transferência de Fatima para Beirute, capital do Líbano, porém ainda não tiveram sucesso. Procurados, o Itamaraty e a Embaixada do Brasil no Líbano não retornaram até a última atualização desta reportagem.
Bombardeio
Fatima estava em casa com dois dos seus quatro filhos quando foram surpreendidos pelo bombardeio. No momento do ataque aéreo, as outras duas crianças, de 12 e 7 anos, tinham saído para a casa dos avós.
Um vídeo enviado para Hussein mostra como o imóvel da família ficou destruído após o bombardeio. Nas imagens, é possível ver os destroços e marcas de sangue em um sofá da casa (veja acima).
Segundo agências de notícias internacionais, os ataques foram feitos por Israel, que visava áreas do grupo terrorista Hezbollah. A agência AP diz que o Hezbollah afirmou que interceptou um drone de Israel durante os ataques deste sábado.
Em nota, o governo brasileiro condenou o ataque e informou que presta apoio à família. Veja nota completa:
"O governo brasileiro manifesta sua indignação e condena o bombardeio de ontem, dia 1°, em Saddikine, no Sul do Líbano, que resultou em ferimentos em três cidadãos brasileiros. Todos estão recebendo tratamento no Hospital Libanês Italiano, em Tiro. O episódio ocorreu no contexto de ataques das forças armadas israelenses no Sul do Líbano e do Hezbollah no Norte de Israel.
"A Embaixada do Brasil em Beirute está em contato com os familiares e com a equipe médica e presta o apoio consular. Desde o início do conflito entre Israel e Palestina, a Embaixada em Beirute monitora e mantém contato regular com os brasileiros residentes no Sul do Líbano.
O Brasil exorta as partes envolvidas nas hostilidades à máxima contenção, assim como ao respeito aos direitos humanos e ao direito humanitário, de forma que se previna o alastramento do conflito em Gaza e se evitem novas vítimas civis inocentes".
Família brasileira
Hussein Ezzddein contou ao g1 que seu primo, Ahmad Aidibi, é casado com Fatima Boustani há 15 anos. A família mora em Saddike, a cerca de 100 quilômetros de Beirute.
Aidibi foi para Itapevi antes da mulher e dos filhos para conseguir oportunidade de trabalho, mesmo sem falar português.
Fátima é libanesa, mas já morou no Brasil há alguns anos, tem parente no país e há poucos meses ela e os filhos conseguiram a nacionalidade brasileira. A família planejava se mudar ainda neste ano para a Grande São Paulo, após o término do período escolar das crianças, informou o primo.
Ao g1, Hussein ainda contou que Aidibi está em estado de choque desde que recebeu a notícia do ataque e pede socorro às autoridades brasileiras. "Ele fica chorando igual uma criança", relatou.