Publicada em 10/06/2024 às 08h42
A Coreia do Norte voltou a enviar centenas de balões repletos de lixo para o Sul, anunciou o Exército sul-coreano nesta segunda-feira (10), depois que a influente irmã de Kim Jong Un alertou que o país continuará respondendo se Seul persistir com a "guerra psicológica".
Nas últimas semanas, a Coreia do Norte enviou centenas de balões com sacos repletos de lixo, como cigarro, papel higiênico e fezes, para o Sul, depois que ativistas sul-coreanos lançaram balões com pendrives de música K-pop, notas de dólares e material de propaganda contra o líder Kim Jong Un.
A resposta do Norte levou o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, a suspender na semana passada um acordo militar de distensão assinado com Pyongyang em 2018, quando os países tinham uma relação melhor.
Desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953) com um armistício, as duas Coreias permanecem tecnicamente em guerra e estão separadas por uma zona desmilitarizada. O acordo de 2018 pretendia reduzir as tensões na península e evitar uma escalada militar, em particular ao longo da fronteira.
Agora, a suspensão permite que Seul retome os exercícios de tiro e as campanhas de propaganda contra o regime do Norte, com alto-falantes na fronteira, uma técnica iniciada durante a guerra.
A medida enfureceu Pyongyang, que alertou que Seul estava criando uma "nova crise".
Nesta segunda-feira, Kim Yo Jong, irmã do líder norte-coreano Kim Jong Un e porta-voz do governo, afirmou em um comunicado que a Coreia do Sul "sofrerá o amargo constrangimento de recolher papel usado sem descanso, e essa será sua tarefa diária".
No comunicado, divulgado pela agência estatal de notícias KCNA, ela descreveu o lançamento de panfletos por ativistas sul-coreanos como "guerra psicológica" e afirmou que, caso Seul não os interrompa e pare transmitir mensagens por seus alto-falantes, o Norte responderá com "novas ações de neutralização".
- Uma reposta "além da imaginação" -
O Exército sul-coreano afirmou que o Norte lançou mais de 300 balões com lixo durante a noite, mas que o vento prejudicou a operação de Pyongyang.
"Enviaram mais de 310 balões, mas muitos deles voaram na direção da Coreia do Norte", destacou o comandante do Estado-Maior. Ele disse que quase 50 atingiram o território sul-coreano e que outros podem chegar ao país.
Segundo as Forças Armadas, as últimas séries de balões contêm resíduos de papel e plástico, mas nada tóxico.
"Até o momento, não vimos nenhum movimento especial por parte do Exército norte-coreano", disse um oficial do Estado-Maior sul-coreano, ao mesmo tempo que admitiu que o comunicado mais recente de Kim Jo Yong tem um nível de ameaça diferente dos anteriores.
"Mas, em qualquer caso, o Exército (sul-coreano) responderá de modo suficiente a qualquer nova contramedida norte-coreana" acrescentou.
Para Kim Dong-yub, professor na Universidade de Estudos da Coreia do Norte em Seul, o comunicado da irmã de Kim Jong Un mostra que Pyongyang "está levantando a voz para culpar a Coreia do Sul pela situação atual e, também, para justificar a sua provocação".
A escalada pode continuar e "a Coreia do Norte fará algo que vai além da nossa imaginação, como espalhar farinha, o que causaria pânico absoluto na Coreia do Sul", cujos habitantes acreditariam estar sob ataque biológico, completou o professor.