Publicada em 17/06/2024 às 10h46
O ex-presidente Donald Trump não esconde que, se for eleito em novembro, tornará ainda mais difícil a vida do líder ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Enquanto a vice-presidente Kamala Harris anunciava sábado um pacote de ajuda de US$ 1,5 bilhão a Kiev (cerca de R$ 8.1 bilhões), durante a conferência de paz na Suíça, o candidato republicano desdenhava o apoio incondicional dos EUA ao país e chamava Zelensky de “o maior vendedor de todos os tempos”, num comício em Detroit.
“Há quatro dias, ele saiu com US$ 60 bilhões. Chega em casa e anuncia que precisa de mais US$ 60 bilhões. Isso nunca acaba. Terei isso resolvido antes de tomar a Casa Branca como presidente eleito”, prometeu a seus seguidores, oferecendo informações erradas e imprecisas sobre o projeto de lei de ajuda externa assinado em abril passado pelo presidente Joe Biden.
O ex-presidente reafirmou que suspenderia a assistência de defesa à Ucrânia se saísse vencedor na disputa de novembro e ponderou que a Rússia não teria invadido o país há mais de dois anos se ele tivesse conquistado a Casa Branca, no lugar de Biden.
A perspectiva de mudança da corrente política nos EUA, acrescida dos ganhos da extrema direita no Parlamento Europeu, gera incertezas para Zelensky. A conferência de paz realizada na Suíça terminou sem consenso. Países do Sul Global, entre os quais Brasil, Índia, África do Sul e Arábia Saudita, não assinaram o documento final, apoiando a integridade territorial da Ucrânia.
Nesse contexto, as declarações de Trump e seu apoio ao russo Vladimir Putin reforçam o tom desestabilizador do candidato republicano no que se refere à segurança do país.
“É um momento realmente extraordinário. Temos um ex-presidente fora do poder ditando a política externa americana em nome de um ditador estrangeiro ou tendo em mente os interesses de um ditador estrangeiro”, observa a jornalista Anne Applebaum, colunista da revista “The Atlantic”.
Em imagem de arquivo, Volodymyr Zelensky e Donald Trump durante encontro em Nova York, em 25 de setembro de 2019 — Foto: Saul Loeb / AFP
Na semana passada, reunidos em Puglia, na Itália, Biden e seus colegas do G7 acertaram um empréstimo de US$ 50 bilhões (R$ 270 bilhões) à Ucrânia a partir dos juros gerados por ativos russos congelados pelo Ocidente. Havia naquela reunião de cúpula um clima de urgência para agilizar um acordo que assegurasse a ajuda à Ucrânia, independentemente de quem ganhe as eleições nos EUA.
Em visita ao Capitólio, Trump, por sua vez, pressionava os republicanos, reafirmando que não gostaria de ver a aprovação de novos pacotes destinados à Ucrânia. O ex-presidente é igualmente cético em relação ao papel da Otan e frequentemente desafia os aliados europeus a aumentarem suas contribuições para a aliança atlântica.
Em fevereiro passado, Trump declarou, num comício na Carolina do Sul que encorajaria a Rússia a “a fazer o que quiser” aos aliados da Otan que não pagam a sua parte na aliança militar ocidental. Essas ameaças reforçam a ansiedade tanto em Zelensky quanto em seus parceiros europeus de que, num eventual segundo mandato do republicano, todos têm motivos de sobra para verem seus maiores temores concretizados.