Publicada em 16/07/2024 às 09h19
Foto: Agência Brasil
Porto Velho, RO – O senador Confúcio Moura (MDB), único congressista da bancada federal rondoniense aliado do presidente Lula (PT), publicou um texto em que aborda a ascensão da extrema-direita no Brasil nos últimos dez anos. Apesar das críticas, Moura não citou diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Recentemente, o senador se autoproclamou como centro-esquerda, mas no texto, redefine sua posição política para centro.
Confúcio Moura iniciou sua análise destacando a origem histórica das definições políticas de direita, esquerda e centro, remontando à Revolução Francesa. Segundo o senador, a direita é caracterizada pela defesa dos benefícios de determinadas categorias, enquanto a esquerda busca enfrentar as desigualdades sociais. O centro, por sua vez, tenta conciliar as duas tendências.
Ele prosseguiu explicando que a extrema-direita, identificada com regimes ultraconservadores como os de Hitler e Mussolini, e atualmente presente em governos teocráticos do Oriente Médio, discrimina direitos e liberdade de expressão. Já a extrema-esquerda, associada a regimes como o de Stalin na União Soviética, também é criticada por seu autoritarismo e desigualdade interna.
Moura afirmou que o extremismo em ambos os lados é prejudicial, e que o mundo atual vê um crescimento da extrema-direita, caracterizado por discursos de ódio e xenofobia. No Brasil, o senador relembrou períodos históricos de forte presença da extrema-direita desde a Proclamação da República até o regime militar de 1964-1985, ressaltando os impactos negativos dessas fases para a democracia.
O senador defendeu a necessidade de preservar a democracia e o equilíbrio político, posicionando-se como um defensor das liberdades individuais e da conciliação entre crescimento econômico e justiça social. Ele enfatizou a importância de evitar os extremos e garantir o direito à livre manifestação.
Concluindo sua análise, Moura expressou a necessidade de o Brasil eleger um presidente de centro para reduzir a polarização política. Ele argumentou que um mandato de centro poderia ajudar a estabilizar o cenário político brasileiro, promovendo um ambiente de maior conciliação e diálogo.
CONFIRA O TEXTO:
Construindo pontes
Por Confúcio Moura
Essa conversa de direita, esquerda, centro, extrema direita, extrema esquerda, isso existe no mundo, e a história registra desde a Revolução Francesa. Neste período começaram essas definições. A direita são os conservadores que pregam e defendem a manutenção dos benefícios de determinadas categorias, com privilégios pra uns. Então, esses são considerados direitistas.
A esquerda é a tendência que procura defender justamente a desigualdade, as camadas sociais mais desprotegidas, oferecendo-lhe mais direitos. Já o centro transita bem entre os dois lados, fazendo a conciliação. Aí depois tem a extrema direita e a extrema esquerda.
A extrema direita (ultraconservadores) ganhou projeção com Hitler e Mussolini, e se expande hoje nos países com governos teocráticos do Irã, Iraque, Afeganistão, Paquistão e outros tantos, cheio de discriminações a direitos de jovens, de manifestações, de imprensa livre, direito das mulheres, educação das mulheres e assim vai.
A extrema esquerda se fortaleceu com ascensão de Stalin na antiga União Soviética, um regime autoritário, com ingerência na vida individual. Prega igualdade para todos, mas na verdade somente o grupo no poder usufrui das benesses.
A história nos mostra que o extremismo dos dois lados é péssimo. Todos os extremistas têm pecados gravíssimos. Esse negócio também que eu falo assim, de direita, esquerda, centro, parece muito o movimento de ordem unida nos quarteis. O comandante do pelotão fala: direita, volver. Esquerda, volver, e assim vai. Meia volta, volver. Então, parece muito a ordem unida com as tendências políticas.
No mundo atual está havendo uma corrida para a extrema direita. Está crescendo em todos os países com o discurso de ódio. Discurso de valores. Enxertando crenças religiosas no meio, contra as imigrações. Os imigrantes, de um país em guerra, em sofrimento, não podem entrar em outro. É esse mundo de princípios que marcam a extrema direita na contemporaneidade.
No Brasil mesmo nós tivemos fases muito bem registradas, nem vou falar na época do Império, dos séculos 18 e 19. Vou falar mais da República pra cá. Tivemos fases terríveis de extrema direita, logo na Proclamação da República com Deodoro e Floriano. Depois a gente veio agravando em 1910 com Hermes da Fonseca. Que também foi era um general, sobrinho de Deodoro da Fonseca. E lá na frente, no governo de Getúlio Vargas, nos 15 anos de ditadura, o Integralismo de Plínio Salgado, fascista, ganhou muita visibilidade.
Dutra veio dos quarteis. Em 1946 foi eleito pelas urnas. Nem cheirou nem fedeu. Depois, em 1950, volta Getúlio, já no regime democrático. Não sabia ser democrata. Tinha dificuldades para negociar com o Congresso e com a sociedade. A crise política foi tão impactante que ele preferiu cometer o suicídio.
Depois de um momento turbulento é eleito JK, um democrata pleno. João Goulart assumiu em 1961, democrata com tendência à esquerda. Exerceu o poder até 1964, quando foi deposto por um golpe militar que perdurou até 1985, por uma extrema direita rasgada.
Veio a redemocratização, mas os efeitos dos ultradireitistas continuam, infelizmente, ameaçando às instituições democráticas. Com mais intensidade nos últimos dez anos. Então, você vê que o Brasil vem bailando nesta corda bamba pra lá e pra cá. Pelo histórico da nossa República é importante ressaltar a preservação da democracia e o equilíbrio político. Sou de centro. O que significa isso? Preservador das liberdades individuais que concilia visões de crescimento econômico e justiça social.
A sociedade é constituída de pessoas com opiniões e desejos distintos. Dentro deste sistema a disputa política está presente. É indispensável considerar as diferenças sem cair nos extremos e garantir o direito das pessoas se manifestarem livremente. Sinto que está na hora de o Brasil voltar a ter um presidente de centro. Pelo menos por dois mandatos para dar uma esfriada na polarização que se instaurou no Brasil nos últimos anos.