Publicada em 12/08/2024 às 16h23
O embaixador Breno Dias da Costa, que foi expulso da Nicarágua pelo governo de Daniel Ortega, participou nesta segunda-feira (12) de uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em Brasília.
A expulsão de Breno Dias da Costa foi uma retaliação do governo da Nicarágua pela ausência do Brasil nas celebrações, em julho, pelos 45 anos da Revolução Sandinista – Daniel Ortega, presidente nicaraguense, é um ex-guerrilheiro do movimento.
A medida extrema também é considerada um indicador de como as relações entre os governos de Lula e Ortega, antigos aliados, vêm se deteriorando nos últimos anos.
"O ministro Mauro Vieira recebeu o embaixador Breno Dias da Costa, que ocupou, até 8 de agosto, o cargo de embaixador do Brasil na Nicarágua. Na audiência, trataram do estado das relações bilaterais e dos últimos acontecimentos antes de sua partida do posto", afirmou o Itamaraty em comunicado.
Em resposta à expulsão do diplomata brasileiro, o governo Lula também decidiu, pelo princípio da reciprocidade, expulsar a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matus.
Ela deixou o Brasil na madrugada da última quinta-feira, antes mesmo de ser informada da decisão do governo brasileiro.
Gesto grave
Relação entre Brasil e Nicarágua deteriora com expulsão de embaixadores
A expulsão de um embaixador brasileiro é um gesto grave nas relações diplomáticas entre dois países e indica a piora nas relações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o governo do nicaraguense Daniel Ortega, de quem Lula já foi aliado.
Em abril, Lula decidiu congelar as relações com a Nicarágua por um período de um ano em retaliação à prisão de padres e bispos no país.
Por conta desse congelamento, o embaixador brasileiro foi instruído a não comparecer às celebrações pela Revolução Sandinista, conforme o Itamaraty.
Em 2022, o governo de Daniel Ortega iniciou uma ofensiva contra a Igreja Católica do país, confiscando imóveis, dissolvendo ordens jesuítas e prendendo padres e bispos que denunciavam a guinada autoritária do líder esquerdista.
O Brasil tentava atuar como mediador entre o Vaticano e Manágua e pedia que o governo nicaraguense que soltasse bispos presos no país desde 2022.
No entanto, decidiu romper com o governo nicaraguense após Ortega se negar a soltar o bispo católico Rolando Álvarez, um dos principais críticos da gestão de Ortega.
Álvarez foi preso pela primeira vez em 2022. Depois, com a mediação do Brasil e a pedido do Vaticano, foi solto, mas o governo exigiu que ele deixasse a Nicarágua. O bispo se recusou e, por isso, foi preso novamente.
O fracasso nessa negociação aprofundou o afastamento entre Lula e Ortega. O Vaticano, na ocasião, rompeu relações com a Nicarágua e passou a classificar o país como uma ditadura.
Quase duas décadas no poder
Há 17 anos no poder, Ortega também é acusado por críticos de ditador e nepotismo -- sua própria esposa, Rosario Murillo, é a vice-presidente do país e, no ano passado, e ele já nomeou diversos parentes para seu governo.
O ex-guerrilheiro alega que seu governo é do povo e defende a soberania do país dos "ataques" dos Estados Unidos.
Segundo o índice V-DEM, que mede o status das democracias pelo mundo, a Nicarágua é uma autocracia. O presidente é Daniel Ortega, reeleito para o quarto mandato em 2021, em eleições apontadas pelos Estados Unidos como "nem justas nem livres".
Ortega é um ex-guerrilheiro de um movimento de esquerda dos anos 1970 conhecido como sandinista.
Ele também governou o país nos anos 1980, depois que seu partido, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), derrubou em 1979 o ditador Anastasio Somoza. A derrubada de Somoza é conhecida como a Revolução Sandinista.
Os sandinistas governaram Nicarágua até 1990, quando foram derrotados na eleição presidencial realizada no país.